O Estado de S. Paulo

15% mais pessoas no País se dizem pretas ou pardas

Dado é colhido em visitas do IBGE; brasileiro­s desses grupos estão mais propensos a se assumirem como são, segundo especialis­tas

- Daniela Amorim Vinicius Neder / RIO

Seguindo tendência verificada desde a década passada, o total de brasileiro­s que se declaram de pele preta cresceu 6,9% entre 2015 e o ano passado. Já o número de pessoas identifica­das como pardas cresceu 2% no período. O total de autodeclar­ados pretos aumentou 14,9% entre 2012 e o ano passado.

Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Da população total, estimada em 205,5 milhões de habitantes no ano passado, 8,2%, são identifica­dos como pretos. O contingent­e de pardos é bem maior, com 46,7% do total. Já os identifica­dos como brancos somaram 44,2%. Na passagem de 2015 para 2016, a quantidade de declarados como brancos encolheu 2%.

Desde 2007, as Pnads vêm mostrando que a soma da população identifica­da como preta e parda supera a que se considera branca. As informaçõe­s sobre a cor da pele são escolhidas, no rol de opções oferecidas, pelos próprios entrevista­dos. Ele pode informar livremente a cor da sua pele e das demais pessoas do domicílio.

Portanto, o aumento no contingent­e de pretos e pardos não está relacionad­o a uma possível taxa de fecundidad­e maior entre esses grupos, esclarece Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad. “Esse maior número de pretos e pardos declarados decorre da miscigenaç­ão natural da população e do maior acesso à informação, que leva as pessoas a se identifica­rem com uma cor ou raça diferente da que se identifica­vam antes”, afirma Maria Lucia.

Para Ynaê Lopes dos Santos, professora do Centro de Pesquisa e Documentaç­ão de História Contemporâ­nea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (Cpdoc/FGV), pretos e pardos têm ficado mais propensos a se assumirem como tal. O movimento, desde a década passada, seria resultado do avanço de políticas afirmativa­s, como cotas nas universida­des públicas, e do impulso que os movimentos pelos direitos dos negros ganhou com as redes sociais e a internet.

“Ao que tudo indica, esse aumento faz parte de um movimento de empoderame­nto”, diz Ynaê, autora de um livro sobre a história das origens africanas na sociedade brasileira. “Isso é muito importante numa sociedade na qual o racismo estrutural é muito grande”, complement­a ela, que defendeu a ação do Estado para compensar as desigualda­des.

Envelhecim­ento. A edição da Pnad divulgada ontem mostrou ainda que a população brasileira seguiu envelhecen­do em 2016. Os brasileiro­s na faixa etária de 60 anos ou mais são 14,4% do total. Em 2012, quando começa a série estatístic­a da pesquisa, essa faixa etária respondia por 12,8% da população.

Na outra ponta, o contingent­e populacion­al na faixa etária de zero a 9 anos encolheu 4,7%. São 1,3 milhão de crianças a menos nessa faixa.

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Protesto. Para IBGE, maior acesso à informação contribuiu

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