UMA RARA SURRA NAS URNAS
Com ar altivo e vitorioso, o novo presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, tomou posse ontem, prometendo um período de pacificação e o respeito às leis do país. Seu histórico, no entanto, dá pouca margem a esperanças. Sua experiência com as urnas é péssima. Nas eleições parlamentares de 2000 o “Crocodilo” – apelido de Mnangagwa – levou uma surra de votos do rival Blessing Chebundo.
Com apoio do partido, o Zanu-PF, e do aparato repressivo do ditador Robert Mugabe, Mnangagwa era mais do que favorito. Mesmo assim, Chebundo decidiu enfrentá-lo. “Sofri todos os tipos de ataque”, conta Chebundo. “Trabalhava na indústria química e fui mandado embora. Era atacado por partidários do Zanu-PF que me seguiam e tentavam me bater.”
Seis dias depois de anunciar que iria concorrer pelo contra Mnangagwa, 50 ativistas do Zanu-PF invadiram sua casa no bairro de classe média de Msasa Park e a incendiaram com os ocupantes dentro. “Tive de sair correndo para o meio do mato com minha esposa e minhas filhas. Tudo que construí em 21 anos foi destruído”, disse Chebundo.
Ao todo, Chebundo sofreu ao menos oito tentativas de assassinato. No pior episódio, foi sequestrado e espancado. “Eles jogaram uns quatro galões de gasolina em mim, mas quando foram usar os fósforos, por milagre, eles não acenderam. E fugiram”. Mesmo com todos os ataques, Chebundo ganhou a eleição para deputado com 58% dos votos. Foi a derrota mais humilhante da carreira de Mnangagwa.
Na semana passada, Chebundo deu uma declaração à BBC. “Veremos como será sua presidência e se ele vai cumprir a promessa de realizar eleições”, disse o antigo adversário do “Crocodilo”. Chebundo ainda vive em Kwekwe e pretende concorrer ao cargo de governador no futuro.