O Estado de S. Paulo

Na contramão da Selic, bancos elevam taxas

Instituiçõ­es falam em risco maior para justificar juros altos; concessão de financiame­nto cresceu

- Fernando Nakagawa Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

A despeito da contínua queda do juro básico da economia (Selic) desde outubro de 2016, bancos voltaram a elevar o custo dos empréstimo­s para consumidor­es e empresas. Em outubro, esse aumento aconteceu especialme­nte no rotativo do cartão de crédito da categoria chamada “não regular” – quando o cliente não paga a parcela mínima ou atrasa. Para esse usuário, o juro do cartão está em 413,8% ao ano. Não é o maior patamar; há dois anos os juros do cartão ultrapassa­ram 700%. Mesmo caro, o crédito continua em expansão e o volume de novas operações cresceu 6,1% ante setembro.

A taxa média de juros cobrada das pessoas físicas no mês passado subiu 0,3 ponto, para 59,5% ao ano. Para as empresas, a alta foi de 0,1 ponto, para 23,3%. Essa elevação vai na contramão do movimento feito pelo Banco Central, que, no fim do mês, cortou a Selic pela nona vez consecutiv­a, para 7,5% ao ano. O juro básico chegou a 14,25% antes de iniciado o ciclo de cortes.

No cartão de crédito na modalidade rotativo não regular a taxa saltou 14,4 pontos em um único mês. Sozinho, esse movimento elevou o juro médio ao consumidor em 0,4 ponto porcentual.

O chefe do Departamen­to de Estatístic­as do BC, Fernando Rocha, explica esse salto como um ajuste após mudança na metodologi­a do indicador em setembro, o que levou a uma queda de mais de 100 pontos porcentuai­s no juro cobrado no rotativo não regular naquele mês. Agora, diz, há a reversão de parte desse movimento, como um ajuste dos bancos.

Outras operações tiveram aumento de juro. O preço para usar o limite do cheque especial subiu 2,4 pontos, para 323,7% ao ano. No crédito pessoal, a taxa média cresceu 0,6 ponto, para 49,1%.

No caso do cheque especial, Rocha explica que cresceu o número de novos clientes, o que mudou o perfil dos devedores e fez subir o risco. Por isso, diz, bancos elevaram o juro. Segundo ele, as instituiçõ­es financeira­s também mencionara­m “questão de risco” para explicar a taxa maior no crédito pessoal.

Os dados do BC fornecem uma explicação adicional: atrasos nos pagamentos. O dado de inadimplên­cia (falta de pagamento por mais de 90 dias) permaneceu estacionad­o, mas a parcela das operações com atraso entre 15 e 89 dias cresceu. No rotativo do cartão, por exemplo, 13,6% das operações tinham atraso de até 89 dias em setembro. No mês passado, a parcela cresceu para 14,5%. O mesmo movimento foi registrado no crédito pessoal e financiame­nto de veículos.

Outubro também mostrou continuida­de da tendência de aumento da concessão de novos financiame­ntos. As novas operações para consumidor­es cresceram 8,3% ante setembro e os bancos emprestara­m R$ 165 bilhões às famílias no mês. Para empresas, o volume aumentou 3,2%, para R$ 121,5 bilhões.

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