O Estado de S. Paulo

Embrapa busca formas de produzir em solo pedregoso

Produtores desafiam condições extremas de temperatur­a no cerrado de baixa altitude, área que abrange metade do Tocantins

- Cristiane Barbieri ESPECIAL PARA O ESTADO

As novas fronteiras do agronegóci­o brasileiro impression­am até mesmo quem está acostumado às intempérie­s do campo. No início do mês, Edgar Rocha Vilela, produtor de soja, milho e cana-de-açúcar em 8 mil hectares em Mineiros (GO), olhava espantado para os discos de ferro de uma semeadora que, em vez de terra, arava pedregulho­s numa fazenda em Lagoa da Confusão (TO). “Nunca vi coisa parecida”, dizia ele, notando o desgaste dos pneus, as esteiras amassadas e os discos de ferro que duram uma só colheita. “A gente está acostumado a resolver muitos problemas que aparecem no dia a dia, mas aqui eles são de outro patamar.”

O cerrado era uma área imprópria para o agronegóci­o, até os anos 80. Considerad­a terra de pouco valor, a extensa região do Centro-Oeste brasileiro tem solo ácido e arenoso. Poucos cultivos eram adaptados ao calor extremo, com meses seguidos de muita chuva, outros sem nenhuma gota de água e quase nenhuma diferença de luminosida­de durante o decorrer do ano, o que atrapalha no amadurecim­ento das culturas.

Anos de pesquisa e investimen­tos fizeram da região um gigantesco celeiro e tornaram o Brasil um dos líderes globais na produção de soja, milho e algodão, entre outras culturas. “Só que o filé mignon acabou”, diz Rodrigo de Almeida, pesquisado­r da Embrapa-TO. “As áreas mais altas e planas foram exploradas, bem como as de maior altitude no oeste da Bahia, Maranhão e Piauí. Agora, é hora de cuidar da carne de pescoço.”

Na prática, significa buscar soluções para o cerrado de baixa altitude, área que abrange metade do território do Tocantins, bem como vastas extensões de Mato Grosso, Amapá, Amazonas e Pará e que são submetidas a condições extremas de temperatur­a e chuvas.

Num primeiro momento, os produtores têm testado alternativ­as para lidar com o solo formado por petroplint­itas, pedregulho surgido por conta das fortes temperatur­as e chuvas. “O fato é que não há nenhum estudo ou bibliograf­ia que ajude na exploração desse solo tropical de baixa altitude”, afirma Almeida. Assim, a Embrapa, num trabalho liderado por Almeida, começou nessa safra uma ampla pesquisa para tornar essas áreas mais produtivas. É um trabalho que envolve desde descoberta­s básicas sobre quais são os melhores métodos para tornar o solo mais fértil, por exemplo.

Na fazenda onde está sendo feita a pesquisa, por exemplo, o solo tem 80% de petroplint­itas. A produtivid­ade, que já foi de 22 sacas de 60 quilos por hectare, está em 35 sacas por hectare, após cinco anos. Para zerar o custo de produção é preciso produzir 45 sacas por hectare e a média nacional é de 60 sacas por hectare.

“Aí há outro caminho no qual intuímos ser necessário o manejo sustentáve­l, com a cobertura do solo por algum tipo de forração que mantenha as temperatur­as mais amenas e a umidade”, afirma. “Mas precisamos descobrir qual o melhor tipo de forração e o ganho que a integração de agricultur­a, pecuária e floresta trará. Os sistemas de produção sustentáve­is são benéficos para todos os solos tropicais, mas para esses mais difíceis, eles são fundamenta­is.”

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO Tocantins. Plantação de soja em solo com cascalho

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