O Estado de S. Paulo

Após reforma, demissões chegam aos sindicatos

Trabalho. O fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a levou as entidades a cortar custos e a reduzir seus quadros de pessoal; Dieese estima que, até o ano que vem, pelo menos 100 mil trabalhado­res diretos e indiretos ligados a atividades sindicais devem se

- Douglas Gavras

O fim da contribuiç­ão obrigatóri­a, extinta pela reforma trabalhist­a, forçou centrais e sindicatos a cortar custos. Eles têm demitido, vendido ativos e feito planos de demissão voluntária para assimilar uma perda estimada em um terço da receita. Segundo previsão do Dieese, 100 mil trabalhado­res devem ser afetados até 2018.

O fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a, extinta com a reforma trabalhist­a, forçou centrais e sindicatos a se adaptarem aos novos tempos de vacas mais magras. Eles têm demitido, vendido ativos e organizado planos de demissão voluntária (PDV) para se adequar a uma perda estimada em um terço da receita. Até 2018, 100 mil trabalhado­res diretos e indiretos devem ser afetados, estima o Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos (Dieese).

A estrutura sindical reúne cerca de 300 mil trabalhado­res em todo o País, segundo o Dieese. Desse total, 115 mil são funcionári­os diretos e o restante presta serviços às entidades. Os cortes devem ser diluídos no próximo mês e ao longo do ano que vem. Mas eles já começaram.

O Sindicato dos Comerciári­os de São Paulo, que tinha 600 empregados, organizou há dois meses um PDV, que teve adesão de 67 deles. Mas isso não evitou outras 35 demissões.

“Se a perda é estimada em um terço da receita, cerca de 100 mil trabalhado­res podem ser afetados até o fim de 2018. O sindicato vai ser obrigado a demitir e a transforma­r funcionári­os diretos em prestadore­s”, avalia Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.

A própria instituiçã­o, mantida com recursos sindicais, espera um orçamento menor para 2018. Neste ano, é de R$ 45 milhões. Em 2018, no cenário mais otimista, será de R$ 30 milhões. O Dieese, que compila estatístic­as de emprego e custo de vida, estuda que pesquisas conseguirá manter a partir de 2018.

Associados. Além da perda da contribuiç­ão sindical, as entidades já tinham de trabalhar com uma realidade mais dura. O Sindicato dos Trabalhado­res da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), por exemplo, viu seu número de associados desabar com a perda de postos da construção na crise. A entidade tinha 230 funcionári­os no início do ano. Agora, são 158.

Uma das estratégia­s das entidades é “voltar para a rua”, para aumentar a receita com novas filiações, inclusive transferin­do parte dos funcionári­os da sede para as equipes que vão até os locais de trabalho e têm contato direto com os trabalhado­res. “O impacto é grande, mas a contribuiç­ão obrigatóri­a tinha de acabar mesmo. Não era uma coisa justa e só servia para alimentar alguns sindicatos que faziam muito pouco. A contribuiç­ão precisa ser discutida”, diz Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP.

As principais centrais apoiam um projeto de lei que regulariza a contribuiç­ão negocial em substituiç­ão ao imposto sindical. Elas também sentem o fim do recurso obrigatóri­o. A Central Única dos Trabalhado­res (CUT) organiza um PDV e a União Geral dos Trabalhado­res (UGT) demitiu funcionári­os e vai para uma sede menor.

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