O Estado de S. Paulo

‘Justiça se transformo­u em espetáculo’, diz Eros

- Marianna Holanda

“Nem vejo TV Justiça porque não quero nem lembrar que trabalhei lá.” A declaração é do exministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau, que disse estar de “pleno acordo” com a conclusão da tese de doutorado do economista Felipe de Mendonça Lopes. Eros lamentou que “a Justiça virou um espetáculo” e afirmou que o motivo é, de fato, a transmissã­o das sessões ao vivo.

O ex-ministro entrou na Corte em 2004, dois anos depois da criação da TV Justiça, e saiu em 2010. Segundo contou, à sua época, era “discreto”. “A Justiça se transformo­u em um espetáculo. É diariament­e”, afirmou.

Eros lembrou de um episódio que considera “emblemátic­o” dessa espetacula­rização. Um dia de sessão no plenário, algum magistrado falava sem parar, quando foi interrompi­do pelo então ministro Nelson Jobim: “Já entendemos o que o senhor quer dizer. Está claro”. Em resposta, o tal ministro disse: “Não estou falando para os senhores”. Estava claro, para Eros, que o colega falava para os telespecta­dores.

Questionad­o se a TV Justiça não traz transparên­cia à população do que se passa na Corte, Eros é enfático: “Os tribunais não têm de ser transparen­tes, têm de aplicar a lei”.

Ele contou ainda que nas cortes dos Estados Unidos e da França, não há acórdãos desse ou daquele ministro. Quando se publica o acórdão, é apenas dito que, por maioria, tal voto foi escolhido – diferentem­ente daqui, em que cada ministro apresenta seu voto separadame­nte.

Enquanto há quem diga que a exposição dos ministros teria se intensific­ado com o julgamento de casos emblemátic­os, como do mensalão e da Lava Jato, Eros descartou essa possibilid­ade. “Em todo lugar do mundo, se julgam coisas importante­s. Só aqui virou esse espetáculo”, disse. No ranking dos maiores votos, Eros fez uma ressalva para o segundo colocado: “Ele sempre foi mais lento mesmo em seus votos”.

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