O Estado de S. Paulo

Post-rock do gelo

Trio cult islandês Sigur Rós faz show hoje em SP.

- Pedro Antunes

O Sigur Rós é uma banda de imagens. E não é só porque parte das letras do trio é cantada em islandês, a língua-mãe dos integrante­s, e a outra seja feita com palavras inventadas de um idioma fictício chamado de Vonlenska. E embora a questão linguístic­a seja importante para outros grupos, não há a necessidad­e de entendimen­to literal daquilo que a banda produz nos discos e no palco.

O post-rock nascido nas terras geladas do extremo norte do globo é a melhor representa­ção do que há de sinestésic­o em uma canção. É quando diferentes planos sensoriais se confundem. No caso do Sigur Rós, o som ouvido se transforma em imagem e cores. Como se cada canção fosse criada para traduzir, em música, a dança de uma aurora boreal. São fachos de luz a valsar pela imensidão escura do céu.

É essa a experiênci­a sensorial que será apresentad­a na noite desta quarta-feira, 29, no último evento da plataforma Popload Gig de 2017, que trouxe, para um festival no início do mês, PJ Harvey e Phoenix. A banda apresenta a partir das 21h30, no Espaço das Américas, uma jornada por climas, dos frios aos mais quentes, explorados ao longo dos 23 anos na estrada.

Há, é verdade, um gostinho de despedida nessa revisitaçã­o de carreira – e pode até ser, embora, em entrevista ao Estado, a banda não confirme nem negue a sensação. O fato é que o Sigur Rós volta a São Paulo após 16 anos com mais cancha, cinco discos a mais e um integrante a menos. Agora, um trio – formado por Jónsi Birgisson (voz e guitarras), Georg Hólm (baixo) e Orri Páll Dýrason (bateria) –, a banda apresentar­á o show completo, com luzes e cenários usados na Europa, um desejo antigo e, segundo Georg, o real impedidor para o retorno do Sigur Rós ao Brasil nos anos anteriores. “É muita coisa para despachar. A logística fica difícil”, explica ele, por telefone, de Reykjavik, capital do país. Georg coloca a questão de se criar uma atmosfera para a performanc­e ao vivo como algo a ser avaliado nos próximos anos. Não quer dizer o fim do Sigur Rós, contudo.

De acordo com o baixista, o trio tem músicas inéditas nas mangas – algumas delas serão executadas no palco do Espaço das Américas por se conectarem com a narrativa proposta pelo grupo. “Mas é muito difícil compor na estrada”, explica Georg, em uma justificat­iva compreensí­vel vinda de uma banda que nasce do silêncio profundo e cresce, se agiganta. “É um processo lento, mesmo. Nós temos ideias de canções, mas ainda não entramos em estúdio para gravar essas músicas. Mesmo que seja vagaroso, para nós é excitante. Algumas ideias são bem diferentes, outras são a cara do bom e velho Sigur Rós.”

A agenda da banda está vazia, por enquanto, para 2018. Depois da apresentaç­ão em São Paulo, o grupo vai Bogotá, na Colômbia, onde integra o Sónar Festival, evento que chegou a ter uma versão brasileira. Depois, os três voltam para a Islândia, onde fazem uma temporada de quatro shows no Harpa Concert Hall, um espaço dedicado à teatro, ópera e música da capital do país. E nada mais.

Com entendimen­to do que se canta no palco ou não, Georg percebe a música do Sigur Rós como um exercício de quebrar as barreiras e gêneros nos quais o grupo e tantas outras bandas são encaixotad­os. Por isso, por exemplo, lançaram, em 2002, um disco com o título de ( ) e músicas sem nome com a proposta de que o público poderia nomeá-los como quisesse. “Para mim, música não tem barreiras”, diz. “Mas, se me perguntare­m, eu diria que fazemos rock and roll.”

SIGUR ROS NO POPLOAD GIG

Espaço das Américas. Rua Tagipuru, 795, Barra Funda, tel. 3864-5566. Hoje (29), às 21h30. R$ 220

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FELIPE RAU/ESTADÃO
 ?? DANIEL HJORT/AP - 6/7/2013 ?? Climas. Vocaliista Jónsii e sua técniica de tocar guiitarra com um arco de viioloncel­o
DANIEL HJORT/AP - 6/7/2013 Climas. Vocaliista Jónsii e sua técniica de tocar guiitarra com um arco de viioloncel­o

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