O Estado de S. Paulo

Governo calcula perdas de R$ 7,8 bi com novo Refis

Deputados tentam aprovar programa de parcelamen­to de dívidas tributária­s para micro e pequenas empresas

- Lorenna Rodrigues Igor Gadelha / BRASÍLIA

A criação de um programa de parcelamen­to de dívidas tributária­s para micro e pequenas empresas está sendo articulada por deputados e já enfrenta resistênci­a da equipe econômica, que estima perdas de R$ 7,8 bilhões em 15 anos. Os parlamenta­res querem aprovar substituti­vo de um projeto de lei que prevê parcelamen­to de débitos em até 180 meses. O novo texto deve manter o prazo e incluir descontos de 90% em juros e multas e de 100% nos encargos. Se aprovada a proposta, seria a primeira vez que integrante­s do Simples teriam descontos do tipo. Este é o terceiro programa de parcelamen­to de dívidas proposto neste ano. O governo fez um Refis para médias e grandes empresas em que arrecadou metade do previsto. Outra MP previa socorro aos produtores rurais, mas caducou – e deputados apresentar­am ontem novo projeto em substituiç­ão.

Enquanto deputados articulam a votação de um projeto de lei que cria mais um programa de parcelamen­to de dívidas tributária­s (Refis), desta vez para micro e pequenas empresas, a equipe econômica já calcula os prejuízos aos cofres públicos de mais um programa de renúncia fiscal. Segundo o ‘Estadão/Broadcast’ apurou, o impacto é estimado em R$ 7,8 bilhões nos 15 anos de duração do novo parcelamen­to proposto.

A equipe econômica é contrária ao projeto e trabalha para que ele não seja aprovado. Neste ano, o governo já fez um Refis para médias e grandes empresas, em que arrecadou R$ 7,5 bilhões – metade do previsto. Outra medida provisória, que perdeu a validade ontem, previa o parcelamen­to de dívidas de produtores rurais, em que o governo abriria mão de outros R$ 15 bilhões. Um projeto de lei foi apresentad­o ontem pelos deputados para substituir a MP. Para a Receita, a febre de projetos desse tipo beneficia maus pagadores.

Na avaliação da equipe econômica, o novo projeto de Refis não faz sentido porque os participan­tes do Simples Nacional (regime compartilh­ado de cobrança tributária para as micro e pequenas empresas) já são beneficiad­os por descontos no pagamento de impostos. No entanto, o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), acertou com parlamenta­res que o projeto seria votado hoje no plenário. Se aprovado, o texto vai para o Senado.

Representa­ntes de micro e pequenas empresas vão usar o apoio à Reforma da Previdênci­a como moeda de troca para conseguir apoio do governo. Hoje, entidades de comércio e serviços, clubes de dirigentes lojista, associaçõe­s de supermerca­dos, hotéis e restaurant­es e materiais de construção têm reunião marcada com Temer.

O presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, está à frente dessa articulaçã­o. Segundo ele, 600 mil empresas com débitos foram notificada­s pela Receita e serão excluídas do Simples se não regulariza­rem a situação.

Na Câmara, a estratégia é aprovar um substituti­vo a um projeto de Lei Complement­ar de 2015, de autoria do deputado Geraldo Resende (PMDB-MS). A proposta original prevê apenas parcelamen­to de débitos em até 180 meses.

O novo texto, que está sendo elaborado pelo deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), deve manter esse prazo e incluir os descontos de 90% em juros e multas e de 100% nos encargos, sem previsão de pagamento de entrada. O porcentual proposto é maior do que o oferecido no Refis para grandes empresas.

A equipe econômica sustenta que a lei que criou o Simples proibia que as empresas beneficiad­as aderissem a parcelamen­tos de tributos em atraso. Uma lei de 2016, no entanto, criou o primeiro Refis para empresas do Simples, sem descontos nos encargos devidos. As empresas que aderiram ainda estão pagando as parcelas e há o temor de que haja uma migração para o novo parcelamen­to.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil