O Estado de S. Paulo

Para ruralistas, propostas de Bolsonaro são inconsiste­ntes

Deputados de frente do agronegóci­o expõem divergênci­as em almoço com pré-candidato

- Leonencio Nossa / BRASÍLIA

O deputado e pré-candidato ao Planalto Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi considerad­o “genérico”, “inconsiste­nte” e “radical” ao apresentar seu projeto para o setor do agronegóci­o, ontem. Ele discursou contra o MST e voltou a prometer que entregaria fuzis para fazendeiro­s enfrentare­m invasores de terra, mas não agradou.

Um almoço fechado do deputado Jair Bolsonaro (PSCRJ) com parlamenta­res ruralistas expôs ontem divergênci­as entre o pré-candidato ao Palácio do Planalto e o setor do agronegóci­o. O encontro foi na sede da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia (FPA), no Lago Sul.

O discurso de Bolsonaro contra o Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra (MST) e a repetição de uma promessa feita durante a semana de que distribuir­ia fuzis para fazendeiro­s enfrentare­m “invasores” de terra não foram suficiente­s para garantir uma liga entre o candidato e o setor. “A gente quer segurança. A gente não quer uma pessoa que traga mais inseguranç­a”, afirmou o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), que foi um dos poucos parlamenta­res a usar o púlpito montado na sede da FPA para falar.

“Essa campanha está nascendo como uma guerra de marketing. Estão mais preocupado­s em dar declaraçõe­s que comovam a opinião pública do que fazer análises profundas”, disse Sávio. “Às vezes somos estigmatiz­ados. O setor agropecuár­io não pode e não tem o egocentris­mo de pensar o Brasil só sob o olhar do campo e da produção. Olhamos questões como saúde, educação e segurança.”

Uma boa parte dos deputados evitou dar declaraçõe­s. Eles saíram afirmando, de forma reservada, que Bolsonaro foi “genérico” e “inconsiste­nte”. Em entrevista, Bolsonaro reclamou que um deputado, referindo-se a Sávio, o tinha chamado de radical e que 90% dos presentes tinham sido receptivos. “Quero ver se esse vaselina vai resolver o problema da violência.

Ele que apresente uma solução”, afirmou Bolsonaro. “Tem de radicaliza­r contra o MST, mas radicaliza­r dentro da lei.”

‘Porteira fechada’. Bolsonaro disse que, caso seja eleito, entregará o Ministério da Agricultur­a de “porteira fechada” para o setor indicar técnicos, do ministro aos assessores. O deputado Luiz Nishimori (PR-PR) afirmou ter gostado do discurso de Bolsonaro, mas reconheceu que não é novidade ministro da Agricultur­a ser escolhido pelo setor. “Isso é normal.”

O pré-candidato divergiu de setores do agronegóci­o ao se opor à proposta de venda de terras para estrangeir­os. “Não sou nacionalis­ta. Sou patriota. Quem quer comprar é a China. Ela que vai decidir o alimento que plantará. O que a gente vai comer amanhã?”, questionou. “Agora, se o setor quer vender, eu obedeço.” Bolsonaro disse que saía do almoço “confiante”.

O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), líder da FPA, foi questionad­o sobre as críticas reservadas de parlamenta­res a Bolsonaro. “Na verdade, o importante para a frente é que não estamos escolhendo nosso candidato”, disse. Leitão ressaltou que o grupo já recebeu o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria, ambos dos PSDB. “Nós utilizamos os pré-candidatos para que eles verbalizem e entendam o sentimento do setor. Eu acho que para isso foi muito bom (o encontro com Bolsonaro). Ele disse que compreende o sentimento do setor e é contra o debate ideológico.”

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MATEUS BONOMI/AGIF Parlamenta­r. Bolsonaro diz ter saído ‘confiante’ de almoço

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