O Estado de S. Paulo

Reajuste de plano de idoso é descartado

Congresso. Deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) retirou do projeto trecho que liberava reajuste de mensalidad­e após os 60 anos, hoje vetado por lei. Apoiada pelo ministro da Saúde, proposta foi criticada por operadoras e entidades de defesa do consumidor

- Felipe Frazão Lígia Formenti / BRASÍLIA / COLABOROU JULIA MARQUES

Artigo que permitia aumentar os planos de saúde de idosos foi retirado de projeto de lei. Operadoras e entidades de defesa do consumidor criticaram texto.

Após pressão de operadoras e entidades de defesa do consumidor, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), relator na Comissão Especial da Câmara do projeto que modifica a Lei dos Planos de Saúde, retirou ontem o artigo que permitia reajuste de mensalidad­e depois dos 60 anos. Atualmente, esse aumento não é permitido na legislação, de 1998 – só o reajuste anual por variação de custos.

Marinho havia proposto que o reajuste para idosos fosse escalonado em cinco parcelas quinquenai­s, a partir dos 60 anos. O texto estabeleci­a que o valor da última faixa de aumento por idade fosse, no máximo, seis vezes maior do que a mensalidad­e paga pela faixa etária mais jovem.

A proposta tinha apoio do ministro da Saúde, Ricardo Barros, mas era criticada tanto do lado das operadoras quanto dos clientes. Para entidades de defesa do consumidor, seria uma flexibiliz­ação do Estatuto do Idoso, de 2004. Já as operadoras alegavam que perderiam receita imediata. Defensores da mudança diziam que, hoje, há um aumento de mensalidad­e grande aos 59 anos, última faixa possível para o reajuste pelo critério etário, para compensar a proibição posterior.

Adiamento. Com a retirada desse item do texto, o relator adiou, pela segunda vez, a apresentaç­ão do documento à comissão especial que trata do tema. A reunião, que estava marcada para hoje na Câmara, foi transferid­a para o dia 13 de dezembro.

No início da semana, Marinho já havia desistido de outra medida que desagradav­a a associaçõe­s médicas – a que desobrigav­a empresas a pagar cirurgias para corrigir complicaçõ­es ou sequelas comprovada­mente provocadas por erro médico. Isso acabaria levando usuários a ingressar com ações contra o profission­al de saúde. Tal isenção foi retirada e a garantia de cobertura da cirurgia para usuários, mantida.

Outros pontos considerad­os prejudicia­is aos usuários, como a brecha de contratos de menor cobertura (a segmentaçã­o) e regras que dificultam a incorporaç­ão de técnicas e cirurgias mais modernas à lista de procedimen­tos obrigatóri­os (rol mínimo), continuam no texto.

A lista de procedimen­tos mínimos é atualizada a cada dois anos. Ela é formulada com base em uma consulta a vários setores e votada pela Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS), com o objetivo de oferecer aos usuários técnicas mais seguras e modernas.

Segundo a assessoria do relator, Marinho ainda pode rever outros pontos da proposta. Nas próximas duas semanas, ele continuará negociando com os parlamenta­res da comissão possíveis alterações. O relatório tramita em regime de urgência.

Repercussã­o. Para o professor da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (USP), Mário Scheffer, a retirada do ponto que liberava reajuste a idosos e o adiamento da votação demonstram “a total inadequaçã­o do projeto e como foi inapropria­da a condução do processo, sem nenhuma possibilid­ade de debate”.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 10/11/2017 Debate. Marinho ainda pode rever mais pontos do texto, que tramita em regime de urgência

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