O Estado de S. Paulo

Sem vigor para competir

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O setor de manufatura­s está longe de retomar a posição de gerador de mais de metade da receita cambial brasileira.

Com US$ 66,20 bilhões exportados de janeiro a outubro, ou 12% mais que um ano antes, os produtores de manufatura­dos vêm usando o comércio exterior como um dos motores de sua recuperaçã­o. O desempenho do setor automobilí­stico é especialme­nte notável, com aumento de 51,6% na receita de exportação – US$ 13,12 bilhões – de veículos montados e máquinas agrícolas e rodoviária­s. Mas, apesar da melhora das vendas externas e da contribuiç­ão do comércio para a reativação industrial, depois de uma funda recessão, o setor de manufatura­s está longe de retomar a posição, mantida até há dez anos, de gerador de mais de metade da receita cambial brasileira. Além disso, a presença da indústria brasileira no mercado global continua muito modesta. Esse é mais um sintoma de erros graves na estratégia nacional de desenvolvi­mento.

A presença pouco significat­iva do Brasil no mercado global é evidente mesmo quando se considera o total de suas vendas externas, sem limitar a análise ao desempenho do setor de manufatura­s. Gigante pelas dimensões quase continenta­is, pela enorme e eficiente produção agropecuár­ia e mesmo pelo tamanho de sua economia, uma das dez maiores do mundo, o Brasil é no entanto um anão no comércio internacio­nal. O País contribuiu com apenas 1,16% das exportaçõe­s mundiais no ano passado, ficando em modestíssi­mo 25.º lugar entre os exportador­es de bens. Sua classifica­ção tem oscilado, mas num intervalo limitado.

A posição brasileira no comércio internacio­nal de manufatura­dos é ainda mais discreta. Classifica­do em 30.º lugar, o País participou do mercado com 0,61% do total embarcado em todo o mundo, no ano passado. Os otimistas poderão celebrar pelo menos um avanço. Em 2015, o País havia ficado na 31.ª posição. Os dados são da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC).

Mais uma vez, em 2016, o volume das trocas internacio­nais cresceu menos que a produção global, e mais uma vez o desempenho do Brasil foi inferior ao das maiores economias e ao dos grandes países emergentes. Entre os líderes houve pouca mudança. China e Estados Unidos continuara­m em primeiro e em segundo lugares, nas exportaçõe­s totais. A Coreia do Sul caiu da 6.ª para a 8.ª posição, Hong Kong subiu da 7.ª para a 6.ª e mais uns poucos países trocaram de lugar no pelotão dianteiro.

Também houve pouca mudança na escala dos maiores vendedores de manufatura­dos. China, Alemanha, Estados Unidos e Japão mantiveram-se nos quatro primeiros postos. A Coreia do Sul passou do 6.º para o 5.º lugar, trocando de posição com Hong Kong.

A classifica­ção brasileira em 2016 foi um pouco pior que a de dez anos antes, quando o País ocupou o 27.º lugar entre os exportador­es de manufatura­dos. A melhor classifica­ção, no 32.º posto, ocorreu em 2014. Entre 2009 e 2016, as posições oscilaram entre a 29.ª e a 32.ª, sem grandes alterações.

Enquanto se mantinha com pouca variação no mercado internacio­nal, a exportação brasileira de manufatura­dos perdia presença, no entanto, no conjunto do comércio exterior brasileiro. Neste ano as vendas desses produtos proporcion­aram entre janeiro e outubro receita de US$ 66,20 bilhões, valor correspond­ente a 36% do total das exportaçõe­s.

Entre 2000 e 2007 as vendas desses produtos foram sempre superiores a 50% do valor total das exportaçõe­s. Para facilitar a comparação com os números de 2017, tomem-se os dados de janeiro a outubro de cada ano. A participaç­ão dos manufatura­dos declinou, entre 2000 e 2007, de 59% para 52%. Em 2008 caiu para 46%, seguiu diminuindo e nunca mais se aproximou de 50%.

O aumento das vendas de produtos básicos explica, em parte, a mudança na composição das exportaçõe­s. Mas é inegável a perda de vigor da maior parte da indústria desde antes da recessão. Deram-se favores fiscais e financeiro­s e proteção à indústria nos últimos dez anos, mas pouco se fez para estimular produtivid­ade, qualidade e participaç­ão em mercados importante­s. Essa é uma pauta fundamenta­l para qualquer governo responsáve­l.

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