O Estado de S. Paulo

PF vê elo entre bunker e repasses da J&F a Geddel.

Informação consta de relatório que imputa ao ex-ministro, sua mãe e seu irmão os crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro

- Luiz Vassallo Fabio Serapião / BRASÍLIA

A Polícia Federal apontou um elo entre supostos pagamentos de propina do Grupo J&F e o bunker dos R$ 51 milhões atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima e a seu irmão, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, ambos do PMDB da Bahia. As informaçõe­s constam de relatório apresentad­o ontem que imputa aos peemedebis­tas os crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro.

O documento citou, por exemplo, que o doleiro Lúcio Funaro, delator e apontado como operador do PMDB, chegou a reconhecer, em foto dos maços encontrado­s em um apartament­o em Salvador, a marca de um banco ligado à holding em etiquetas que envolviam as cédulas. Geddel está preso preventiva­mente no Complexo da Papuda, em Brasília. Procurada, sua defesa não respondeu até a conclusão desta edição.

O delegado da PF Marlon Oliveira Cajado dos Santos afirmou, no relatório, ver indícios de crimes e ressaltou que o documento integra as investigaç­ões da Operação Cui Bono?, que apura as condutas de Geddel no período em que foi vicepresid­ente da Caixa Econômica Federal. O ex-ministro é suspeito de ter beneficiad­o a J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, na liberação de recursos.

Ao ser apresentad­o a fotos dos maços de dinheiro encontrado­s no bunker de Salvador, Funaro disse reconhecer referência­s ao Banco Original do Agronegóci­o, da J&F. “Lúcio Funaro informou que os valores envoltos em ligas, com um pedaço de papel onde havia impresso o valor constante do maço de dinheiro, era exatamente como retirava o dinheiro dos seus doleiros e repassava para Geddel”, afirmou a PF no relatório.

O operador ainda “mencionou que o dinheiro envolto com cinta contendo a inscrição ‘BOA’, era na verdade uma referência ao Banco Original do Agronegóci­o”. Segundo o relatório, Funaro disse que “sabia disso porque já teria recebido dinheiro da mesma maneira do diretor jurídico do Grupo J&F Investimen­tos, senhor Francisco de Assis, e na ocasião o alertou sobre a facilidade de rastreamen­to do dinheiro”.

Em acordo de delação premiada com a Procurador­ia-Geral da República (PGR), Funaro afirmou ter entregue R$ 20 milhões a Geddel Vieira Lima em voos que realizava para Salvador. Os pousos e decolagens do operador foram confirmado­s pela empresa Aerostar. Nos documentos, constam períodos curtos, muitos de menos de uma hora, em que Funaro permanecia no aeroporto. Os registros corroboram dados de planilhas em que há datas dos supostos repasses do delator ao peemedebis­ta. Dois voos foram testemunha­dos pela mulher de Funaro, Raquel Pitta.

Depósito. Ainda segundo o documento da PF, “os valores em espécie de origem ilícita entregues por Lúcio Funaro, decorrente­s do crime antecedent­e de corrupção de Geddel Vieira Lima enquanto servidor da Caixa Econômica Federal, aparenteme­nte foram armazenado­s na casa da mãe de Geddel, dona Marluce Vieira Lima, e posteriorm­ente transferid­os para o apartament­o da Rua Barão de Loreto em Salvador, ocultando assim recursos originados de atividades criminosas”.

Para a PF, Geddel agia na Caixa “para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de sua área de alçada e fornecia informaçõe­s privilegia­das para os outros membros da organizaçã­o criminosa que integrava”. Dessa forma, o bando obtinha supostas propinas de empresas como “BR Vias, Oeste Sul Empreendim­entos Imobiliári­os S.A., Marfrig S.A., J&F Investimen­tos S.A., Grupo Bertin, JBS S.A.”.

Procurada, a assessoria de imprensa da J&F, responsáve­l também pela JBS, Marfrig e Bertin, não comentou as acusações da PF. A assessoria da BR Vias e o deputado Lúcio Vieira Lima não respondera­m até a conclusão desta edição. Representa­ntes da Oeste Empreendim­entos não foram localizado­s.

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:DIDA SAMPAIO/ESTADAO-8/9/2017 Ex-ministro. Geddel deixa IML em Salvador, após exame de corpo de delito, em setembro

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