Venezuela terá inflação anual acima de 2.000%
Economista opositor diz que chavismo está inundando economia com dinheiro emitido para cobrir o déficit fiscal
O deputado José Guerra, presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional da Venezuela, disse ontem que a inflação deste ano fechará acima de 2.000%, segundo estimativas do Legislativo, único poder controlado pela oposição. O descontrole dos preços tende a agravar a crise humana que vem causando a fuga em massa de venezuelanos do país.
“Hoje podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que, com este aumento de liquidez criado pelo Banco Central (BCV), a inflação em 2017 vai superar facilmente os 2.000%”, disse Guerra. A previsão é um pouco mais otimista do que a divulgada pela consultoria Econométrica no início de novembro.
Segundo a empresa, a Venezuela registrou em outubro uma inflação de 50,6% em relação ao mês anterior, entrando tecnicamente em hiperinflação, ao superar, pela primeira vez em sua história, uma alta de preços acima de 50% em um único mês.
“Com a inflação geral de outubro de 2017, de 50,6% em relação a setembro, a Venezuela entra na definição técnica de hiperinflação proposta por Philip Cagan”, escreveu a Econométrica no Twitter, citando o economista americano que criou o conceito em 1956.
Cenário ruim. Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou seu relatório Perspectivas Econômicas Globais, no qual especialistas estimam que a economia da Venezuela sofrerá uma contração de 12% e terá uma inflação de 2.349,3% em 2018.
“O agravamento da crise política na Venezuela constitui um peso para a atividade econômica, que, segundo as previsões, se contrairá mais de 10% em 2017, à medida que diminua a produção de petróleo e se intensifique a incerteza”, afirma o FMI.
A queda no preço do petróleo reduziu a capacidade de investimentos do governo e comprometeu o orçamento. Ao menos 96% das receitas da Venezuela vêm da extração petrolífera. Sem moeda forte, as importações de produtos básicos ficaram prejudicadas, aumentando a falta de comida e remédios. O salário mínimo no país é de 177 mil bolívares, o equivalente a US$ 53 na taxa oficial de câmbio. Mas, no mercado paralelo, onde a moeda local é mais desvalorizada, o montante equivale a apenas US$ 4.
Ainda ontem, Guerra afirmou que a projeção “confirma o caminho hiperinflacionário no qual a economia venezuelana se encontra” desde outubro, segundo dados da Assembleia Nacional, que assumiu a tarefa diante do silêncio do BCV. Ele reiterou que o Banco Central “está inundando a economia com dinheiro inorgânico para cobrir o déficit fiscal” e garantiu que, em novembro, o BCV aumentou a base monetária em 1.560%, em comparação com 2016.