Papa pede respeito às etnias de Mianmar
Pontífice evita se referir diretamente à questão dos rohingyas, minoria muçulmana vítima de perseguição
O papa Francisco pediu ontem na capital de Mianmar, Naypyidaw, “respeito a todos os grupos étnicos” do país. O pontífice evitou, porém, pronunciar a palavra “rohingya” para se referir à minoria muçulmana que tem sido vítima de perseguição por parte das autoridades birmanesas, o que causou o deslocamento forçado de mais de 620 mil pessoas para Bangladesh. De acordo com a Organização das Nações Unidas, a minoria é vítima de “limpeza étnica” no território birmanês.
Mianmar não reconhece oficialmente o direito a cidadania dos rohingyas desde 1982, quando a ditadura militar que governou o país entre 1962 e 2011 outorgou uma lei de nacionalidade que não conferiu esse direito à minoria islâmica. As autoridades birmanesas se referem aos rohingyas como bengalis, naturais do vizinho Bangladesh. A ONU estima que cerca de 1 milhão de rohingyas viviam no Estado de Rakhine, em Mianmar, antes do deslocamento forçado.
Diferente do que faz normalmente, o pontífice evitou falar da violência contra os rohingyas, cujo êxodo para Bangladesh começou no final de agosto. Na ocasião, a polícia, o Exército e milícias budistas de Mianmar começarem a atacar a minoria muçulmana, sob a justificativa de controlar uma suposta insurgência.
O que se seguiu foi a fuga de centenas de milhares de civis para o país vizinho, escapando de abusos, assassinatos e torturas. As autoridades de Mianmar negam a acusação de que provocaram o deslocamento forçado dos rohingyas.
No discurso pronunciado diante das autoridades civis de Mianmar, em Naypyidaw, Francisco pediu um “compromisso pela justiça e respeito aos direitos humanos”.
O papa pronunciou-se após reunião com a líder de facto de Mianmar, Aung San Suu Kyi. No encontro, Suu Kyi – que é Nobel da Paz e tem sido criticada por não evitar a violência contra os rohingyas – comprometeu-se a proteger os direitos humanos e a promover a tolerância para todos.