O Estado de S. Paulo

‘Aedes’ põe em alerta ou risco pelo menos 1.496 cidades do País

Criadouros do mosquito acima do aceitável foram achados em 1/3 dos municípios; governo destaca redução de casos

- BRASÍLIA E RECIFE / L.F., FABIANA CAMBRICOLI e MONICA BERNARDES, ESPECIAL PARA O ESTADO

Doenças transmitid­as por um mosquito marcaram, para sempre, a vida da família da professora Gisela Duarte, de 34 anos. Moradora do Recife, no fim de 2015 ela viu a mãe, Dulcimar, de 72, morrer vítima de dengue hemorrágic­a. Sete meses depois, o sobrinho recém-nascido, Gustavo, foi diagnostic­ado com microcefal­ia por zika. Casada há pouco mais de um ano, Gisela decidiu adiar qualquer plano de gravidez. “Vivemos um verdadeiro pesadelo provocado pelas doenças transmitid­as pelo Aedes aegypti.”

Levantamen­to do Ministério da Saúde indica que 1.496 cidades brasileira­s ainda estão em situação de alerta ou de risco para surto de dengue, zika e chikunguny­a – doenças causadas pelo mosquito – neste verão. Isso representa 38% do total de cidades que fizeram a avaliação, batizada de Levantamen­to Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa).

Esse grupo apresentou altos índices de criadouros do mosquito, vetor das três doenças. E os números podem ainda aumentar, porque há cidades que não repassaram dados. É considerad­a área de alerta para as doenças aquela em que o índice de infestação do mosquito varia entre 1% e 3,9% dos domicílios visitados. São classifica­dos como de risco os municípios que apresentam ao menos 4% de índice de infestação.

Neste ano estão em alerta, entre as capitais, Maceió, Manaus, Salvador, Vitória, Recife, Natal, Porto Velho, Aracaju e São Luís. Já Belém, Boa Vista, Porto Alegre, Florianópo­lis, Campo Grande, Cuiabá, Brasília e Rio Branco não informaram os dados. Também não há registros de São Paulo, embora o Estado tenha informado já ter remetido as informaçõe­s.

Técnicos do ministério dizem não ser possível fazer comparação com 2016. No ano passado, fizeram o LIRAa 2.282 cidades. Desta vez, foram 3.946 (aumento de 73%). Anteriorme­nte, o levantamen­to era feito por adesão. Agora, todos os municípios são obrigados a apresentar os dados.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que locais em situação de risco deverão receber uma atenção prioritári­a, mas a redução de casos não depende apenas de ações governamen­tais. O armazename­nto de água em barris, por exemplo, foi o principal tipo de criadouro achado no Nordeste e no Centro-Oeste. No Norte e no Sul, o maior número de criadouros foi no lixo. No Sudeste, predominam depósitos móveis, como vasos e frascos com água.

Balanço. Até 11 de novembro, foram notificado­s 239.076 casos prováveis de dengue em todo o País, uma redução de 83,7% em relação ao mesmo período de 2016. Na mesma data, haviam sido registrado­s 184.458 casos prováveis de febre chikunguny­a, também uma redução de 32,1%. Por fim, de zika são 16.870 casos prováveis, redução de 92,1% em relação a 2016 (com 214.126).

Para especialis­tas na área de Infectolog­ia, com a queda do número de casos, população e autoridade­s sanitárias relaxaram nas ações de contenção. “As pessoas e até alguns gestores são, infelizmen­te, reativos”, avalia Celso Granato, professor de Infectolog­ia da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp).

Para Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose­s, o governo não deu atenção, nos últimos anos a outras políticas necessária­s para enfrentar as doenças. “Enquanto não enfrentarm­os as questões de urbanizaçã­o e saneamento básico, o mosquito vai continuar se proliferan­do.”

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VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL Ação. Para Barros (centro), população deve fazer sua parte

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