O Estado de S. Paulo

‘Tenho medo e, por isso, vou embora de casa’

- / L.F. e M.B.

Estados atingidos pela epidemia que levou a uma explosão de casos de bebês com microcefal­ia continuam apresentan­do alto risco para novas ondas de doenças relacionad­as ao Aedes aegypti. O levantamen­to apresentad­o ontem pelo Ministério da Saúde mostra que, das cidades analisadas em Pernambuco, 48,35% estão em alerta e 23,9%, em risco para zika, dengue ou chikunguny­a.

Depois de 60 anos morando no bairro de Aguazinha, em Olinda, região metropolit­ana do Recife, a comerciant­e Ridalva Gastão se prepara para deixar a casa onde criou os cinco filhos e parte dos 12 netos.

“No ano passado, tive chikunguny­a. Depois, minha vida virou um inferno. Tenho dores todos os dias, muitas vezes não consigo sequer andar sozinha e tive de parar de trabalhar na minha loja. Entrei em depressão. Não desejo para ninguém. Meu marido é diabético e tem problemas no coração e já teve dengue duas vezes. Tenho medo de meus netos e filhos adoecerem e, por isso, vou embora”, diz.

“É muito triste ver minha mãe sair da casa onde ela construiu sua vida por causa de um mosquito. Praticamen­te todos os vizinhos já tiveram alguma arbovirose e já houve até registro de mortes”, desabafou Laís Cosmo, filha de Ridalva.

Na Paraíba, a situação é ainda mais grave. Das cidades analisadas, 50,67% apresentar­am níveis de criadouros que indicam alerta e 24,22%, risco. No Rio Grande do Norte, 44% estão em alerta e 42%, em risco. Em Roraima, 53,8% dos municípios que encaminhar­am dados do LIRAa estão em situação de alerta e outros 23%, em risco. No Rio, 22% das cidades estão em alerta para doenças ligadas ao Aedes.

Campanha. Para tentar melhorar os dados nacionais, o Ministério da Saúde lançou ontem nova campanha de conscienti­zação. “É preciso colocar em prática a sexta sem mosquito (8 de dezembro, dia de mobilizaçã­o nacional)”, disse o ministro Ricardo Barros.

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