Glória e suplício
Garoto brasileiro que sonha ser jogador de futebol tem perto de si motivo para estímulo e seguir em frente ou para desistir e tentar outra profissão. No extremo otimista, está o recém-aposentado Zé Roberto. Na ponta negativa, se encontra o goleiro Muralha.
O primeiro saiu de cena anteontem cercado de carinho de companheiros, rivais, torcida, arbitragem, dirigentes, críticos. Zé Roberto vestiu a camisa do Palmeiras pela última vez, na vitória sobre o Botafogo, como se tivesse feito carreira toda apenas em um clube. Embora tenham sido pouco mais de dois anos de casa, a passagem foi tão digna que lhe valeu a condição de ídolo verde e, agora, lhe rendeu convite para ser dirigente.
Honrarias merecidas. Zé Roberto é dos raros casos de atleta com carreira longeva (tem 43 anos) e sempre com destaque. Nunca foi peso morto nos elencos de que fez parte; talvez esta tenha sido a temporada em que menos atuou, o que é compreensível. Já se preparava para pendurar as chuteiras.
Zé Roberto manteve-se na ativa por mais de duas décadas porque teve qualidade (e mercado) para tanto, por ter constituição física privilegiada (sofreu poucas contusões) e sobretudo pela cabeça boa, pelo equilíbrio e pela sensatez. Sujeito boa-praça, que levou a profissão a sério e até onde foi possível. Não passou pelos gramados como aventureiro, nem como cometinha que some e desaparece com rapidez, tampouco como deslumbrado. Foi profissional e teve respeito consigo mesmo.
Um dos momentos marcantes da correção com que encarou desafios veio no Mundial de 2006. Lembram da seleção? Cheia de astros, de campeões mundiais e de gente em busca de recordes pessoais. Era um que queria ser o maior goleador de Copas, outro que teria maior número de finais ou de jogos disputados pela amarelinha etc...
Eram projetos individuais, brilho particular, badalação e coisas do gênero. O Zé Roberto ficou na dele, treinou e jogou como fosse principiante, consciente de que seria sua última chance. Sentiu como novato a desclassificação diante da França. Justiça se faça também a Kaká, outro que se empenhou.
Não é por acaso que Zé Roberto, depois daquela frustração, teve fôlego para desfilar por mais 11 anos por campos de Europa, Ásia e Brasil. Se encontrar ambiente propício, terá muito a contribuir para evolução de jovens talentos. Caráter, gabarito, currículo e histórias ele tem de sobra. É um professor.
Em compensação, caro amigo, não gostaria de estar na pele e nas barbas de lenhador de Alex Muralha. O moço leva fácil o título de vilão de 2017. Poucas vezes me lembro de atleta tão esculhambado e rejeitado pela torcida como o goleiro do Flamengo. E olha que tenho alguns decênios no jornalismo...
Impressionante como aglutinou, em pouco tempo, a ira da nação rubronegra. Concentra, em 1m86, toda a insatisfação por insucessos do clube. Caso exemplar de trajetória que foi do auge ao fundo num piscar de olhos. Chega a soar desumano as marretadas que recebe de todo lado.
Bem, ele também não se ajuda muito, como se viu no clássico com o Santos, no fim de semana. A maré não lhe anda favorável, quis mostrar confiança em lance arriscado, quebrou a cara na tentativa de drible em Ricardo Oliveira dentro da área, de que resultou gol contra o time. E ainda falhou no segundo... Muito destrambelhado. Por isso, virou alvo de xingamentos ontem, no embarque da delegação para a Colômbia.
Pelo visto é bom procurar colocação em outra freguesia para 2018. Trocar de ares lhe fará bem. Mas que a malhação é impiedosa, isso é.
Extremos: Zé Roberto se retira como ídolo no Palmeiras. E o Muralha é execrado no Fla
Noite tricolor? O Grêmio está a um empate de tornar-se tri da Libertadores. Sonho possível, diante do ajustado Lanús. Torço para que seja só um grande jogo – e não guerra.