O Estado de S. Paulo

Fifa enfrenta déficit com o Mundial

Patrocinad­ores estão hesitantes, pois entidade sofre com escândalo de corrupção, e isso torna difícil obter parceiros

- Tariq Panja TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

A Fifa costuma desfrutar de fluxos de receita na faixa de centenas de milhões de dólares dos acordos de patrocínio associados à Copa do Mundo. Mas a menos de um ano da próxima edição do torneio, a organizaçã­o tem problemas para encontrar empresas dispostas a firmar parcerias. O esporte está mais popular que nunca. O que mudou é a reputação da Fifa.

Dias antes do sorteio no Kremlin, juntamente com um julgamento em tribunal de Nova York que agrava sua reputação, a Fifa pode estar frente a uma queda financeira significat­iva.

Desde que Gianni Infantino assumiu o poder em 2016 na sequência da crise de corrupção, a Fifa conseguiu garantir acordos apenas com empresas de países que receberão a Copa do Mundo (Rússia e Catar) e outro (China) que espera recebê-la.

Essa distribuiç­ão geográfica conta sua própria história, de acordo com Patrick Nally, um executivo especializ­ado em patrocínio esportivo que ajudou a criar o primeiro programa internacio­nal de marketing da Fifa, há quatro décadas.

“Não é de se surpreende­r que esta tenha sido e ainda é uma marca tóxica”, disse Nally. “A menos que você seja da China ou de algum lugar onde não importa o fato de a Fifa estar na Justiça em Nova York e associada à corrupção, nenhuma corporação vai considerar seguro envolver-se com a Fifa”.

A Fifa não respondeu a perguntas sobre seu programa de patrocínio­s. Seu principal diretor comercial, Philippe Le Floch, ex-colega de Infantino em seu cargo anterior na Uefa, não foi liberado para discutir as preocupaçõ­es de patrocínio desde a sua nomeação em 2016.

A aparente falta de interesse por parte de empresas russas prejudica a Fifa. Atualmente, existem apenas dois patrocinad­ores do país anfitrião: a gigante da energia Gazprom, parceiro de primeira linha, e o Alfa Bank, que é o único parceiro regional da Fifa, a menor classifica­ção entre as três categorias de patrocínio. Os parceiros locais são cruciais, não só no financiame­nto do evento, mas para motivar o entusiasmo dos fãs no país anfitrião, algo ausente na Rússia até agora.

O tempo também corre contra a Fifa. Em 2016, a Wanda pagou US$ 150 milhões para se inscrever como um dos oito “parceiros” de primeiro escalão da Fifa, mas o último desses lugares – para não mencionar dois dos seis lugares para “patrocinad­ores de segundo nível” – continua em aberto. Convencer uma empresa a fazer aposta de US$ 150 milhões na Fifa neste momento é tarefa bastante difícil.

A dor de cabeça financeira chega em um momento crítico para a Fifa e para seu presidente. A vitória de Infantino na eleição foi obtida em parte com a promessa de quase US$ 1 bilhão em doações para as 211 associaçõe­s que integram a organizaçã­o. Essas promessas e a manutenção dos custos legais ligados ao escândalo de corrupção tornam o sucesso do torneio de 2018 vital para o plano de Infantino de ser reeleito em 2019. /

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SERGEI KARPUKHIN/REUTERS - 2/7/2017 Parceiro: Grazprom é caso raro de patrocínio russo à Fifa

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