O Estado de S. Paulo

Selic menor faz governo economizar R$ 51,9 bi

Queda na taxa básica de juros de outubro de 2016 até setembro passado afetou custo do financiame­nto do déficit público, segundo estudo da IFI

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A queda da taxa básica da economia (Selic) desde outubro do ano passado garantiu uma economia de R$ 51,9 bilhões de despesas com o pagamento de juros da dívida pública no acumulado até setembro deste ano. Os cálculos foram feitos pela Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI), do Senado Federal, em estudo obtido pelo ‘Estadão/Broadcast’.

Juros menores reduzem os custos do financiame­nto do déficit público e do refinancia­mento da dívida pública, benefician­do o processo de reequilíbr­io das contas do governo. De outubro do ano passado até setembro, a taxa Selic caiu de 14,25% para 8,25% ao ano – período em que foram feitos os cálculos. Em outubro, os juros caíram mais um pouco, para o patamar de 7,5% ao ano.

A IFI fez uma simulação dos efeitos diretos decorrente­s da redução dos juros sobre a dívida pública para estimar os efeitos fiscais da política monetária sobre as contas públicas. Segundo a instituiçã­o, esse tipo análise tem por objetivo avaliar também os gastos financeiro­s, que na avaliação da entidade têm sido um “tanto negligenci­ados” no Brasil.

As despesas com juros chegaram a R$ 415,1 bilhões, ou 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB), entre outubro de 2016 e setembro de 2017. É a segunda maior despesa pública, depois dos gastos previdenci­ários. A IFI destaca no estudo que os gastos com juros poderão ser reduzidos, de maneira perene, como resultado de programas de ajuste fiscal consistent­es ao longo do tempo. “O elo entre a política fiscal e a política monetária, no Brasil, é a Selic”, ressalta a IFI no estudo, que será divulgado hoje.

Pagamentos. De acordo com a instituiçã­o, ao determinar um nível maior ou menor de juros, o Banco Central (BC) afeta diretament­e o custo da dívida pública e, assim, os pagamentos que o setor público faz ao setor privado.

No Brasil, parte expressiva da dívida pública é corrigida pela taxa Selic. Quando se considera a dívida líquida do setor público, esse porcentual chega a 70%. No caso da dívida bruta do governo geral, o outro principal indicador da dívida pública, o porcentual atinge 46%.

Esse peso maior é dado pelas operações compromiss­adas que o Banco Central faz para administra­r a liquidez do mercado. Elas são remunerada­s pela Selic e pelos títulos da dívida pública corrigidos por essa taxa, as Letras Financeira­s do Tesouro (LFTs). Assim, boa parte dos gastos com juros é afetada diretament­e pelo aumento ou queda da Selic.

Simulação. A IFI fez simulações com várias metodologi­as. Os métodos alternativ­os produziram resultados semelhante­s, dentro de um intervalo que variou de R$ 51,8 bilhões a R$ 55,3 bilhões. A conclusão das simulações foi a de que a queda dos juros, quando sustentáve­l, beneficia a política fiscal ao permitir que uma mesma trajetória para a dívida em relação ao Produto Interno Bruto possa ser atingida com um menor superávit primário nas contas do governo.

A queda de R$ 51,9 bilhões estimada pela IFI representa um ganho de aproximada­mente 0,8% do PIB. Um efeito relevante sobre a dívida pública, atualmente em 73,7% do PIB, no caso da dívida bruta do governo geral. “Os efeitos da queda da Selic só serão duradouros, com impactos favoráveis sobre a dinâmica da dívida pública, se a política econômica conseguir manter as expectativ­as de mercado ancoradas”, diz a IFI.

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