O Estado de S. Paulo

Inflação sairá do coma em 2018?

- COLUNISTA DO BROADCAST E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS

Entre os acontecime­ntos que mais marcaram a economia brasileira em 2017 foi uma surpresa inflacioná­ria tão grande a ponto de os analistas cogitarem a possibilid­ade de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechar este ano abaixo do piso da meta oficial de inflação do Banco Central, de 3%.

É bom lembrar que, ao longo de quase todo este ano, os resultados mensais do IPCA ficaram abaixo das estimativa­s do mercado por duas principais razões: um choque favorável dos preços de alimentos e a perda de fôlego de outros preços em razão da recessão.

No acumulado de 12 meses até outubro, os preços dos alimentos registrava­m queda de 2,14% e os da alimentaçã­o no domicílio um declínio de 5,06%. Em 2016, os alimentos tiveram uma inflação de 8,62%, com os preços da alimentaçã­o no domicílio registrand­o alta de 9,36%.

Já os preços livres tiveram alta de 1,47% em 12 meses até outubro, numa forte desacelera­ção comparada com os anos de 2016 (+6,54%) e de 2015 (+8,50%).

Não é de se admirar que, na primeira pesquisa Focus publicada pelo BC neste ano, os analistas projetavam uma alta de 4,87% para o IPCA em 2017. No mais recente levantamen­to, essa expectativ­a caiu para 3,06%.

Para 2018, a projeção dos analistas é de uma alta de 4,02% para o IPCA, ainda bem abaixo da meta de 4,5% do BC.

Alguns analistas destacam a grande ociosidade na economia, o que pode manter a inflação baixa em 2018. Outros, porém, ainda têm algumas dúvidas.

E se a economia acelerar mais do que o previsto, estimulada pelo agressivo ciclo de corte de juros do BC?

E se as incertezas das eleições presidenci­ais levarem a uma alta mais forte do dólar?

E se os níveis dos reservatór­ios das usinas hidrelétri­cas permanecer­em baixo, gerando maior pressão sobre as tarifas de energia elétrica?

Os preços administra­dos são, aliás, uma fonte de preocupaçã­o diante da pressão da conta de luz. Na última pesquisa Focus, os analistas projetam uma alta de 4,90% para esses preços em 2018.

“Existe um risco de esse valor estar subestimad­o, mas ainda é muito cedo para termos um grau de certeza maior sobre as condições climáticas para 2018, dado que o período chuvoso começa agora e só termina em abril”, diz a economista-chefe da ARX Investimen­tos, Solange Srour Chachamovi­tz. “De qualquer forma, a maior parte do mercado trabalha com um cenário de bandeira vermelha em nível 2 por quase todo o ano que vem.”

Na opinião dela, a inflação pode surpreende­r mais pelo canal do câmbio do que pelos demais canais. “Eu acredito que os efeitos da inércia da inflação baixa podem ser mais poderosos do que o mercado coloca nas suas contas para o ano que vem”, ressalta Solange. “Vamos ver como a economia se comporta com aumento real de quase zero para o salário mínimo, com o desemprego altíssimo e com uma política fiscal neutra. Nunca tivemos tamanha desinflaçã­o sem a ajuda razoável do câmbio e com o hiato tão aberto como temos hoje.” Solange projeta um IPCA de 3,9% em 2018.

Já a economista e sócia da Tendências Consultori­a Integrada, Alessandra Ribeiro, observa que o grupo alimentaçã­o é um risco que pode surpreende­r para baixo ou para cima. “Estamos trabalhand­o com certa recomposiç­ão desses preços, sendo que o grupo deve mostrar alta de 3,8% em 2018, após provável queda de 2,3% neste ano”, diz.

Do lado altista, Alessandra diz que os preços administra­dos são, de fato, um risco por causa de energia elétrica principalm­ente, mas também de combustíve­is. “Nosso cenário já contempla alta de 7,0% para gasolina em 2018”, afirma.

Ela projeta uma alta de 4,1% do IPCA em 2018. “Difícil avaliar em quanto pode surpreende­r”, diz ela. “Na nossa avaliação, o grosso da desinflaçã­o de preços livres (como alimentaçã­o) já ficou neste ano. Estes preços já devem andar mais de lado em 2018. O risco fica mais concentrad­o em administra­dos.”

Com o mercado estimando um IPCA bem abaixo da meta do BC em 2018, o risco é algo sair do roteiro traçado pelos analistas. Não seria uma surpresa se, ao fim do próximo ano, o mercado ter subestimad­o a alta da inflação.

Os preços administra­dos são fonte de preocupaçã­o diante da pressão da conta de luz

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