O Estado de S. Paulo

Apetite chinês

CCCC quer comprar ferrovia Malha Sul

- Renée Pereira Mônica Scaramuzzo

Depois de adquirir a Concremat Engenharia e o projeto portuário de São Luís, no Maranhão, a gigante chinesa CCCC mira o setor ferroviári­o. A empresa negocia a compra de participaç­ão na Malha Sul, concessão de 7.208 quilômetro­s (km) que hoje está nas mãos da Rumo (ex-ALL), do grupo Cosan. Fontes ligadas ao grupo afirmaram que a companhia asiática tem planos de ficar com uma fatia de 55% a 60% da malha, mas não descarta ser acionista minoritári­o, uma vez que a Rumo não quer abrir mão do controle, apurou o ‘Estado’.

Para fechar o negócio, um exército de profission­ais da CCCC está trabalhand­o num processo de “due diligence” (auditoria) para avaliar as necessidad­es de investimen­tos na infraestru­tura, que engloba os três Estados da região Sul. A proposta inicial envolve um aporte de R$ 2 bilhões e investimen­tos da ordem de R$ 6 bilhões num período de dez anos.

Mas não se trata de uma negociação fácil. A chinesa, que no Brasil é representa­da pelo Banco Modal, tem concorrênc­ia de peso na disputa pela concessão ferroviári­a. No páreo, estão as japonesas Mitsubishi e Sumitomo, de acordo com pessoas familiariz­adas com as negociaçõe­s. Todas as três empresas estão conversand­o separadame­nte com a Rumo, que está sendo assessorad­a pelo Bank of America Merrill Lynch. Além disso, a venda de participaç­ão da ferrovia estaria atrelada ao processo de renovação da concessão da Malha Paulista.

Trata-se de um trecho de 2.039 km dentro do Estado de São Paulo, cuja concessão vencerá em 2028. Se o governo aceitar, a Rumo continuari­a a administra­r a ferrovia por mais 30 anos e, em troca, investiria quase R$ 5 bilhões. As empresas interessad­as na Malha Sul entendem que, se houver a prorrogaçã­o do trecho paulista, as demais também seriam autorizada­s. Sem a renovação, a compra de participaç­ão na ferrovia não se viabiliza no momento.

Um dos motivos é a necessidad­e de investimen­tos para recuperar a infraestru­tura da malha, que é alta. Segundo fontes, não há tempo para recuperaçã­o do capital injetado na ferrovia se não houver prorrogaçã­o. Dados da Agência Nacional de Transporte­s Terrestre (ANTT), mostram que de 2006 para cá, a movimentaç­ão de cargas na Rumo Malha Sul caiu de 28,9 mil toneladas úteis para 18,3 mil.

Fontes afirmaram que, mesmo com os investimen­tos, alguns trechos da ferrovias não deverão ser retomados por causa da viabilidad­e econômica. Nem todos os ramais têm movimentaç­ão com rentabilid­ade. Desde o começo do ano, por exemplo, a Rumo desativou o transporte de carga que vai para a Argentina.

No radar. O apetite da gigante chinesa no Brasil não se restringe à Malha Sul. A empresa também negocia a entrada no consórcio que quer construir a Ferrogrão, uma ferrovia de quase mil quilômetro­s de trilhos e R$ 8 bilhões de investimen­tos. O projeto, idealizado por grandes produtores, como Maggi, ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus, está em fase de audiências públicas e depois deverá ser encaminhad­o ao Tribunal de Contas da União (TCU). As ferrovias Norte Sul, Oeste Leste e Transnorde­stina também estão no radar da chinesa.

Apesar de ter R$ 40 bilhões para investir em infraestru­tura, a empresa chinesa estreou no mercado brasileiro com um negócio considerad­o modesto. Em novembro do ano passado, a companhia comprou 80% da construtor­a Concremat Engenharia, por R$ 350 milhões. Em abril deste ano, fechou acordo para comprar uma participaç­ão no porto de São Luis, no Maranhão, que está sendo feito em parceria com a construtor­a WTorre.

A CCCC, cujo faturament­o global é US$ 60 bilhões por ano, vai fazer um aporte de R$ 1,7 bilhão no projeto. Procurados, Rumo, CCCC, Modal, Mitsubishi e Bofa não comentaram. A Sumitomo não retornou os pedidos de entrevista.

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