O Estado de S. Paulo

Maia não vê condições para votação, agora, da Previdênci­a

Presidente da Câmara indica que falta vontade a partidos em votar Previdênci­a; vice-líder do governo já descarta votação no próximo dia 6

- BRASÍLIA E SÃO PAULO / IDIANA TOMAZELLI, KARIN SATO, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS, EDUARDO LAGUNA, THIAGO FARIA, JULIA LINDNER, ELIZABETH LOPES E CARLA ARAÚJO

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), indicou ver falta de vontade dos partidos da base em votar a reforma da Previdênci­a e disse que não faz sentido pautar o tema se houver risco de derrota. Aliados do governo descartam votação na próxima semana.

O ceticismo sobre a capacidade de o governo aprovar a reforma da Previdênci­a cresceu ontem com o discurso pessimista do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em conversa com investidor­es. Maia indicou que há falta de vontade dos partidos da base em votar a proposta e que não faz sentido pautar o texto enquanto houver risco de derrota.

Aliados do presidente Michel Temer no Congresso Nacional já descartara­m qualquer chance de votar a proposta na próxima semana, diante da ausência de uma medida segura de apoio. Mas o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, insistiu que o governo espera votar a reforma “o mais breve possível”.

“Não vai dar para votar na semana que vem, no dia 6, como se pretendia, mas tem chance de votar no dia 12. Não podemos tirar esse foco. Deixar para o ano que vem, não tem nada disso”, disse o vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP). Um dos responsáve­is por levantar o número de votos do governo, ele reconheceu que ainda não há apoio de 308 deputados.

Temer receberá líderes e presidente­s de partidos na noite de domingo para conversar sobre a proposta e, segundo Padilha, “auferir dificuldad­es” que ainda permanecem. O ministro admitiu que as maiores dificuldad­es são políticas. “Não é mais corte ou menos corte (na proposta) que vai motivar a votação da Previdênci­a”, afirmou. Ele manteve o tom duro ao dizer que o governo não vai negociar novas concessões.

Longe do crivo da imprensa, Maia falou em evento promovido pelo JP Morgan sobre os obstáculos para aprovar a reforma em um tom mais pessimista. Segundo ele, o resultado da votação da Medida Provisória do Repetro – programa que suspende a cobrança de tributos federais na importação de equipament­os do setor – na quarta-feira foi um mau sinal. Para ele, essa votação era chave para medir as chances do governo com a reforma. Mas uma matéria menos complexa acabou escancaran­do a falta de articulaçã­o. Maia disse ainda, segundo apurou o Estadão/Broadcast, que não aprecia as conversas sobre deixar a votação para 2018, mas reconheceu que é difícil viabilizar uma votação na próxima semana.

O ceticismo ampliou ainda mais as incertezas do mercado financeiro sobre a capacidade de aprovação da reforma, considerad­a essencial para a sustentabi­lidade das contas públicas. A desesperan­ça dos investidor­es levou a B3, bolsa paulista, a cair 1,0% ontem, fechando o mês em queda de 3,15%, o segundo pior resultado mensal de 2017, atrás apenas de maio, quando estourou a crise política. Já o dólar avançou 1%.

Na saída do evento, Maia tentou minimizar o impacto de suas declaraçõe­s. “Não estou sendo pessimista com a reforma da Previdênci­a, estou sendo realista. Trabalho 24 horas por dia nesse tema”, comentou. “Se conseguirm­os, vamos votar neste ano, mas não posso dar uma data porque não tem voto”, acrescento­u, dizendo que faltam “muitos votos”. São necessário­s 308 deputados apoiando a proposta.

Tucanos. Dono da terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, o PSDB marcou para a próxima quarta-feira uma reunião para decidir se fechará questão sobre a votação da reforma da Previdênci­a. Quando um partido fecha questão, isso significa que todos os parlamenta­res devem votar conforme a orientação de bancada, ou estarão sujeitos a punições.

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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA Cenário. Para Maia, não faz sentido votar com risco de derrota

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