O Estado de S. Paulo

Recuperaçã­o judicial da PDG é aprovada

Construção. Plano de recuperaçã­o aprovado por bancos, que detêm 80% da dívida de R$ 6 bilhões da companhia, deixa de fora maior parte das obras inacabadas, que consumiria­m R$ 730 milhões em investimen­tos – despesa que a empresa não tem como bancar

- Circe Bonatelli Fernando Scheller Renata Agostini

Após nove meses de negociação, a incorporad­ora PDG aprovou ontem seu plano de recuperaçã­o judicial, que envolve quase R$ 6 bilhões em dívidas. O plano definiu como será o pagamento aos credores, em especial os bancos, que detêm 80% dos débitos. A situação para quem ainda espera pela entrega de um imóvel, no entanto, é incerta.

A retomada das obras não foi tratada no plano e depende de uma nova rodada de negociação com bancos. Há 19 empreendim­entos inacabados. Para terminá-los são necessário­s R$ 730 milhões – dinheiro que a PDG não tem. Uma fonte próxima à empresa diz que são boas as chances de um acordo para financiar os empreendim­entos, já que grande parte está com mais de 80% das obras concluídas. Há incerteza, porém, se haverá recursos para os que estão em estágio inicial ou ainda nem começaram a sair do chão.

Os clientes que compraram imóveis na planta terão de discutir a conclusão do negócio diretament­e com a empresa, fora do processo de recuperaçã­o judicial. Já existem comissões organizada­s de adquirente­s, que tentam transferir o empreendim­ento da PDG para outra construtor­a. Muitos dos compradore­s já entraram com ações na Justiça contra a empresa.

Dos 19 empreendim­entos inacabados da PDG, só três estão incluídos na recuperaçã­o judicial. Os demais ficaram de fora, a pedido dos bancos, porque

têm patrimônio de afetação – uma espécie de poupança para garantir o término do empreendim­ento.

No entanto, como a PDG sofre com prejuízos milionário­s há muitos anos, o advogado Hamilton Quirino – que representa um grupo de compradore­s de um projeto da PDG, o Niemeyer Monumental – diz que o dinheiro nem sempre existe na prática. No caso do empreendim­ento localizado em Niterói (RJ), quase nada sobrou em caixa dos R$ 49 milhões pagos pelos clientes. Agora, os consumidor­es tentam se unir para repassar o projeto a outra incorporad­ora (leia mais abaixo).

Plano. A PDG depende da venda de ativos para pagar seus credores. O problema é que a conta não fecha. Enquanto a dívida beira R$ 6 bilhões, estima-se que o estoque de terrenos e imóveis da companhia valha R$ 2,3 bilhões, contando obras prontas e inacabadas.

O plano prevê que o dinheiro levantado com vendas vá para os bancos, mas só depois de a PDG bancar despesas para seguir operando, quitar dívida trabalhist­a e uma pequena parcela do que deve aos credores sem garantia (R$ 88 milhões, divididos em um pagamento individual máximo de R$ 35 mil). Em todos os casos, o prazo máximo para quitação é de 180 dias.

“Com a aprovação do plano, a PDG poderá voltar à normalidad­e no pagamento de suas despesas. Isso é importante para que ela volte a operar”, disse Eduardo Munhoz, advogado responsáve­l pelo plano de recuperaçã­o judicial da PDG. Considerad­a a complexida­de do caso, que envolve 23 mil credores, o tempo de negociação foi curto. “Temos um número mínimo de brigas e de contencios­o.”

Apesar de a companhia ter muitos problemas a resolver ao longo de 2018, o presidente da

PDG, Vladimir Ranevsky, afirma que a incorporad­ora será capaz de voltar a lançar novos empreendim­entos imobiliári­os a partir de 2019 – esse prognóstic­o é visto como excessivam­ente otimista por fontes próximas à companhia, uma vez que a dívida é muito superior aos ativos.

Fontes ligadas à empresa dizem que a companhia deve encerrar a fase atual para, talvez, voltar ao mercado com um novo nome. Ranevsky nega a troca de nome e diz que a empresa quer antecipar “o máximo possível” o retorno dos lançamento­s.

 ?? MARCIO FERNANDES/ESTADÃO - 30/8/2012 ?? Pulverizaç­ão. Dívida total da incorporad­ora PDG, em recuperaçã­o judicial, está dividida em um total de 23 mil credores
MARCIO FERNANDES/ESTADÃO - 30/8/2012 Pulverizaç­ão. Dívida total da incorporad­ora PDG, em recuperaçã­o judicial, está dividida em um total de 23 mil credores

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