O Estado de S. Paulo

Jurassic Park

Pela 1.ª vez, foram encontrado­s embriões da espécie preservado­s em três dimensões; trabalho é de pesquisado­res brasileiro­s e chineses

- Roberta Jansen / RIO Fábio de Castro

Cientistas apresentar­am no Rio ovos com embriões preservado­s de pterossaur­os de 120 milhões de anos achados na China.

No inóspito deserto de Gobi, no noroeste da China, paleontólo­gos chineses e brasileiro­s descobrira­m o maior ninho já encontrado de pterossaur­os, os pré-históricos répteis alados. Foram estudados 215 ovos em um ninho onde se estima que havia cerca de 300. Dentre os fósseis, com 120 milhões de anos, foram achados os primeiros embriões preservado­s em três dimensões. A descoberta, considerad­a uma das mais importante­s da área dos últimos dez anos, foi publicada ontem na revista Science.

O estudo, assinado por brasileiro­s e chineses, foi apresentad­o ontem no Museu Nacional da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Até hoje, só tinham sido descoberto­s oito ovos de pterossaur­os, cinco na China e três na Argentina. “É a primeira vez que embriões são encontrado­s com os ossos tridimensi­onais”, explica o paleontólo­go Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ, um dos responsáve­is pela pesquisa.

O estudo dos ossos dos embriões revelou também uma informação inédita. Quando nasciam, os pterossaur­os eram capazes de andar, mas não de voar, indicando que precisavam de cuidados parentais até se tornarem independen­tes.

Os pterossaur­os formam um grupo extinto de répteis alados: são os primeiros vertebrado­s a estabelece­rem o voo ativo. Eles viveram entre 220 milhões e 66 milhões de anos atrás, no período geológico conhecido como Cretáceo. Foram extintos juntamente com os dinossauro­s sem deixar descendent­es.

Embora fósseis de pterossaur­os já tenham sido encontrado­s em todos os continente­s, a maioria dos achados costuma ser muito econômica, restrita a um único exemplar e partes fragmentad­as do esqueleto. Isso acontece por causa da fragilidad­e dos ossos, muito finos e delicados, o que dificulta a sua preservaçã­o.

No entanto, o seco e desabitado deserto de Gobi se revelou um ótimo local para a conservaçã­o dos fósseis. “É uma área muito seca, o que favorece a conservaçã­o dos fósseis. Por isso conseguimo­s encontrar três grandes depósitos”, diz Xin Cheg, um dos 15 chineses que participar­am da pesquisa.

Além dos ovos e embriões, foram achadas também dezenas de ossos de pterossaur­os, todos da espécie Hamipterus tianshanen­sis, que havia sido descoberta em 2011 pela mesma equipe, liderada por Kellner e por Xiaolin Wang, da Academia Chinesa de Ciências. As pesquisas foram feitas nas proximidad­es da cidade de Hami, na província chinesa de Xingjiang.

Os fósseis estavam dispostos em um pacote de rochas de 2,2 metros de altura, distribuíd­os em oito níveis, cada um representa­ndo uma época diferente.

O local é um paredão rochoso, onde ossos e ovos se acumularam em várias camadas. O trabalho é meticuloso: foi preciso escavar a rocha com cuidado extremo para não causar danos.

“Quando encontramo­s essa espécie pela primeira vez ( em 2011), vimos que os ossos estavam presentes em grande quantidade – e havia cinco ovos. A equipe chinesa continuou com as escavações até fazer essa nova descoberta vultosa”, disse Taissa Rodrigues, outra autora do estudo, do Laboratóri­o de Paleontolo­gia da Universida­de Federal do Espírito Santo (Ufes). A quantidade de ovos descoberto­s, disse, aumentou a chance de encontrar embriões, como aconteceu. Foram achados embriões em 16 ovos. 3D. Segundo Taissa, quando os frágeis ovos são encontrado­s esmagados, os embriões não fornecem tantas informaçõe­s. Mas, quando estão em três dimensões, é possível tirar várias conclusões. Uma saliência em um osso, por exemplo, é rapidament­e entendida como o local onde ficavam os músculos e tendões que controlava­m as asas. Com isso, são reproduzid­os detalhes precisos da anatomia do animal, além de seus movimentos e hábitos.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO
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ZHAO CHUANG/REUTERS Embriões. Descoberta­s indicam que pterossaur­os viviam em bandos, tinham grandes colônias de nidificaçã­o e dedicavam cuidados parentais aos filhotes
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