O Estado de S. Paulo

Advogado cita prova adulterada de Janot

Réu e foragido, Tacla Duran depõe da Espanha; ele diz que sistema da Odebrecht foi manipulado, o que torna nula acusação contra Temer

- Renan Truffi / BRASÍLIA

O advogado Rodrigo Tacla Duran afirmou ontem, em depoimento à Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito (CPI Mista) da JBS, que os documentos usados pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot em denúncia contra o presidente Michel Temer foram “adulterado­s” e, portanto, seriam falsos. Tacla Duran se referia a informaçõe­s do sistema de comunicaçã­o secreto do Setor de Operações Estruturad­as da Odebrecht, chamado de Drousys.

Réu na Operação Lava Jato, Tacla Duran disse aos parlamenta­res, por meio de videoconfe­rência, que uma perícia contratada por ele teria mostrado que sistemas internos da Odebrecht foram manipulado­s antes de serem entregues ao Ministério Público Federal (MPF). Ele prestou depoimento da Espanha – o advogado é considerad­o foragido, uma vez que o juiz Sérgio Moro expediu mandado de prisão contra ele.

“A perícia comprova que os extratos do Meinl Bank são falsos. Comprova também que o sistema Drousys da Odebrecht foi manipulado e adulterado antes, durante e depois de ter sido bloqueado pelas autoridade­s da Suíça. Isso quer dizer que essas informaçõe­s não se prestam como provas para incriminar quem quer que seja, muito menos deputados, senadores e o presidente. A prova é nula”, disse Tacla Duran, apontado como operador de propinas da empreiteir­a e de outras empresas investigad­as na Lava Jato.

Algumas das informaçõe­s armazenada­s no Drousys foram usadas por Janot na segunda denúncia contra Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral, Moreira Franco, barrada pela Câmara dos Deputados. O presidente foi acusado pelo ex-procurador de organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça.

“Eu não parto da premissa de que o procurador Janot estava mentindo. Eu parto da premissa de que ele obteve no Drousys, mas isso prova que o sistema foi manipulado depois do bloqueio feito pela Suíça em março de 2016”, afirmou o advogado.

‘À la carte’. Tacla Duran também acusou o ex-procurador Marcelo Miller de preparar “delações à la carte” e de tentar negociar com ele seu acordo de colaboraçã­o premiada. “Eu fui convocado por uma reunião na Odebrecht e, quando comuniquei isso (aos procurador­es), Marcelo Miller sugeriu: ‘Então vai lá e grava’.” Miller está na mira da CPI Mista por causa de sua atuação nas negociaçõe­s do acordo de colaboraçã­o de executivos do Grupo J&F, sob suspeita de ter atuado a favor da holding enquanto trabalhava no MPF.

O advogado afirmou também que Miller o incitou a dizer quais políticos e autoridade­s públicas poderia entregar. “Indústria da delação porque estão fechando processos penais batendo carimbo, sem investigar. Esse é o sentido da indústria da delação”, afirmou.

Tacla Duran se recusou a entrar no acordo de delação que envolveu 77 executivos ligados à empreiteir­a. O advogado é acusado de operar, ao lado de executivos da Odebrecht, propinas de dois contratos firmados pelos consórcios Pipe Rack e TUC, integrados pelas empresas Odebrecht e UTC, com a Petrobrás para a construção do Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj).

A Odebrecht disse, por meio de nota, que as atividades de Tacla Duran na empresa foram informadas às autoridade­s no processo de colaboraçã­o com a Justiça. “A qualidade e a eficácia da colaboraçã­o da empresa vêm sendo comprovada­s e têm sido instrument­o valioso no combate à corrupção”, informou a empresa em nota.

Em comunicado à imprensa, Miller disse ser mentira que tenha mandado o advogado gravar conversas com executivos da Odebrecht. O ex-procurador afirmou ainda que não apresentou nenhuma lista de políticos sobre os quais ele deveria se pronunciar. Janot informou que não iria se manifestar.

“Indústria da delação porque estão fechando processos penais batendo carimbo, sem investigar. Esse é o sentido da indústria da delação.” Rodrigo Tacla Duran

RÉU E FORAGIDO DA OPERAÇÃO LAVA JATO

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ALEX FERREIRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS Da Espanha. Apontado como operador da Odebrecht, advogado é ouvido por videoconfe­rência na CPI Mista da JBS

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