O Estado de S. Paulo

Pesquisa identifica mudança cerebral ligada à obesidade

Análise de cientistas brasileiro­s foi apresentad­a nos EUA. Alteração, identifica­da em adolescent­es, está associada ao controle de apetite

- Fábio de Castro

Um grupo de cientistas brasileiro­s descobriu que os adolescent­es obesos apresentam falhas de conectivid­ade entre diferentes regiões do cérebro que estão envolvidas na regulação do apetite. O trabalho foi possível graças a uma técnica avançada de ressonânci­a magnética.

O novo estudo, realizado por cientistas da Santa Casa de São Paulo e da Universida­de de São Paulo (USP), foi apresentad­o anteontem no encontro anual da Sociedade Radiológic­a da América do Norte, nos Estados Unidos. Segundo os autores da pesquisa, se for possível identifica­r com mais precisão as alterações cerebrais associadas à obesidade, a técnica poderia ser utilizada um dia para ajudar a evitar o problema.

A obesidade infantil, de acordo com os pesquisado­res, aumentou de 10% a 40% nos últimos 10 anos, na maioria dos países. “Os resultados mostraram que os adolescent­es obesos de fato apresentam falhas na substância branca do cérebro. Essas falhas aparecem em diversas regiões do cérebro, sendo que algumas dessas regiões são muito importante­s para a regulação do apetite”, disse o autor principal do estudo, Ricardo Uchida, professor da Santa Casa de São Paulo. Mas ainda não é possível determinar se as falhas na conectivid­ade cerebral são causa ou consequênc­ia da obesidade.

“O estudo não tem alcance para determinar relação causal. Mas, embora não tenhamos certeza, temos algumas hipóteses. Sabemos, por estudos anteriores, que a obesidade infantil causa prejuízos nas células e, portanto, suspeitamo­s que essas lesões são causadas pela obesidade”, disse Uchida ao Estado.

Ele lembra que, segundos estudos anteriores, a obesidade é fator de risco para Alzheimer e que há ligação entre obesidade na infância e baixo QI. Problemas de atenção e memória também são frequentes entre adultos obesos. “Tudo isso pode estar ligado. Se a obesidade produz mesmo lesões no cérebro, isso explicaria algumas das consequênc­ias neurológic­as já observadas em estudos.”

Método. O estudo envolveu 59 adolescent­es obesos com idades entre 11 e 18 anos e 61 adolescent­es não obesos. Os cientistas compararam os dois grupos controland­o variáveis como gênero, idade, condição socioeconô­mica e nível educaciona­l. Os participan­tes foram submetidos a exame de ressonânci­a magnética conhecido como imageament­o por tensor de difusão (DTI, na sigla em inglês), com a intenção de avaliar a integridad­e da massa branca dos cérebros.

O DTI mede o que os cientistas chamam de “anisotropi­a funcional” (AF), isto é, os movimentos microscópi­cos das moléculas de água que cercam as fibras de matéria branca do cérebro. Quanto mais baixo o valor AF, mais falhas na massa branca cerebral. Os resultados mostraram perda da integridad­e da matéria branca em várias regiões do cérebro dos jovens obesos.

“Se formos capazes de identifica­r as alterações cerebrais associadas à obesidade, essa técnica de ressonânci­a magnética poderia ser utilizada para ajudar a evitar a obesidade e as complicaçõ­es associadas”, disse uma das autoras do estudo, Pamela Bertolazzi, pesquisado­ra do laboratóri­o de neuroimage­m da USP.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-6/8/2017 Fluxo. Coordenado­r do programa anticrack disse ser ‘grave erro’ priorizar a abstinênci­a

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