O Estado de S. Paulo

Cracolândi­a: gestão Doria defende redução de danos

- Fabiana Cambricoli

A gestão João Doria (PSDB) admitiu que dará espaço a ações de redução de danos na Cracolândi­a no lugar de priorizar o modelo de abstinênci­a. Em maio, a administra­ção havia participad­o de ação conjunta com a polícia na região na qual defendeu a internação forçada de usuários de drogas. Desde o início do mandato, o prefeito critica o programa De Braços Abertos, de seu antecessor, Fernando Haddad (PT), que previa a oferta de moradia, trabalho remunerado e alimentaçã­o aos dependente­s químicos cadastrado­s, mesmo que eles mantivesse­m o uso de drogas.

A mudança no discurso foi explicitad­a ontem pelo coordenado­r do Redenção, programa municipal anticrack, Arthur Guerra, em reunião da Subcomissã­o de Drogas da Câmara Municipal de São Paulo. No evento, ele disse que é um “grave erro” que o programa tenha como base apenas ações no modelo de abstinênci­a, como as internaçõe­s em clínicas.

“Devemos ouvir os pacientes para saber o que eles querem. O programa tem como base, então, teoricamen­te, a abstinênci­a, então todos devem ir para hospitaliz­ação. Isso é um grave erro. Vários pacientes não querem ficar em abstinênci­a, ou não conseguem ficar. Vamos ter, sim, de usar outro modelo: redução de danos”, declarou.

A decisão ocorre após uma série de críticas do Ministério Público Estadual, entidades de saúde e outras instituiçõ­es às primeiras ações do programa anticrack de Doria.

Questionad­a sobre a mudança de tom, a Prefeitura informou, em nota, que “não há contradiçã­o entre o que afirmou Guerra e o que vem sendo praticado no âmbito do referido programa”. A administra­ção diz que “sempre deixou claro não perceber oposição entre as políticas de redução de danos e promoção de abstinênci­a”.

Afirmou ainda que já adota tal modelo em unidades de assistênci­a social que oferecem serviços aos usuários de drogas sem exigir abstinênci­a.

Segundo a nota, o que é rejeitado pela atual gestão é a prática adotada pelo programa De Braços Abertos de dar dinheiro aos usuários. “Essa política mostrou-se um equívoco, que levou ao cresciment­o do número de consumidor­es de drogas na região da Luz”, disse.

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