O Estado de S. Paulo

Emprego e informalid­ade

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Odesempreg­o caiu de 12,8% no trimestre móvel terminado em julho para os 12,2% no terminado em outubro. Esse é um jeito de interpreta­r os números mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad Contínua, divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. O outro jeito é focar uma das condições do aumento do emprego; é olhar para o lado mais negativo, digamos, e concluir que o avanço só aconteceu porque mais gente passou para o trabalho informal, aquele que não conta com registro em carteira, e, portanto, considerad­o precário.

Seja como for, a queda do desemprego por aqui é mais uma indicação de que, depois de quase três anos de recessão, consolida-se a recuperaçã­o da atividade econômica. Mais devastador que o trabalho informal é o desemprego. Por isso, é preciso ver os números também por esse lado, aquele que só reconhece qualidade no trabalho formalizad­o.

A economia passa por grandes transforma­ções. As relações de trabalho são uma delas. Atividades em tempo parcial ou intermiten­te ou autônomas devem ser considerad­as hoje de interesse não só de grande número de empresas, como, também, dos próprios trabalhado­res. Vivemos inexoravel­mente o tempo dos aplicativo­s que abrem espaço enorme para atividades diretas ou paralelas. Não dá para deixar de olhar para suas consequênc­ias.

Em artigo publicado nesta quintafeir­a no Estadão, o especialis­ta em Economia do Trabalho José Pastore observa que pode não convir a exclusivid­ade do emprego – e até o registro em carteira – a estudantes, donas de casa, garçons, autônomos ou a profission­ais que exercem atividades como as de enfermeiro­s, psicólogos, cuidadores, manicures, massagista­s, fisioterap­eutas, personal trainers, atendentes de comércio, freelancer­s ou operadores em segmentos da construção civil. Isso é tendência global e não apenas notada no Brasil.

Essas atividades apresentam um terrível efeito colateral: produzem o encolhimen­to drástico da arrecadaçã­o da Previdênci­a Social. Ainda que o trabalhado­r autônomo recolha escrupulos­amente sua contribuiç­ão, o sistema deixa de contar com boa parte da contribuiç­ão do empregador. É mais uma indicação de que não bastará uma demão de tinta nas atuais regras do jogo. Em todo o mundo, os esquemas vigentes de financiame­nto da Previdênci­a Social estão a perigo.

Também é preciso levar em conta que o aumento do emprego no País proporcion­a importante aumento da renda. Em comparação com o trimestre anterior, a massa de rendimento real (habitual) cresceu 4,2%, apontou a Pnad.

Este não é o único nem talvez o principal fator a levar em conta. Como a inflação em 12 meses caiu dos 10,36% em fevereiro de 2016 para 2,7% em outubro, o salário já derrete menos e isso, por si só, garante importante aumento do poder de compra que tende a levar a economia a engatar a terceira marcha. Nenhum piloto de corrida consegue completar a primeira volta no melhor tempo. Só depois do embalo obtido na volta anterior é que consegue a velocidade desejada. É esse efeito que se espera desse relançamen­to.

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