O Estado de S. Paulo

Transporte marítimo de cargas entre Brasil e Chile é alterado

Por 12 meses, reserva de mercado será quebrada; objetivo de fortalecer o setor dos dois países não teria sido alcançado

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Problema apontado pelo setor exportador brasileiro, a reserva de mercado no transporte marítimo de cargas entre Brasil e Chile foi parcialmen­te quebrada esta semana, depois de 43 anos de existência. Pelo prazo de um ano, esse serviço deixará de ser exclusivo das embarcaçõe­s de bandeiras brasileira e chilena. A exceção abrange as cargas não transporta­das em contêinere­s, como granéis e automóveis. Essa liberação atinge 10% das cargas do comércio bilateral, segundo a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI).

“Entendemos que havia uma reserva de mercado”, disse ao Estado a secretária executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Marcela Santos de Carvalho. Essa reserva, explicou ela, havia sido estabeleci­da em 1974 com o intuito de fortalecer a marinha mercante dos dois países. Porém, informou ela, estudos feitos pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Ministério das Relações Exteriores indicaram que os objetivos dessa política não foram alcançados.

Depois de meses de embate interno, o conselho de ministros da Camex decidiu, em julho, pelo fim do acordo a partir de 2020. Mas, até lá, continuari­a a dificuldad­e para as empresas que exportavam cargas não “conteineri­zadas”. Isso porque não existem embarcaçõe­s brasileira­s ou chilenas que transporte­m esse tipo de mercadoria nessa rota.

Para driblar a falta de navios adequados e a reserva prevista no acordo marítimo, o que as exportador­as faziam era pedir uma exceção (“waiver”) à Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s (Antaq) para usar embarcaçõe­s de outra bandeira para o Chile. Esse processo, além de levar semanas, representa­va uma burocracia e um custo adicional para as empresas, disse Marcela.

Um sinal dessa dificuldad­e é que 62% das exportaçõe­s brasileira­s para o Chile seguem pela via marítima. Para os demais destinos, o padrão é 85%.

Nesta semana, seguindo decisão da Camex, a Antaq autorizou um waiver estendido pelo prazo de um ano. Ou seja, o pedido que era feito navio a navio agora está autorizado de forma geral nesse período.

“Foi ótimo”, disse o gerente executivo de Infraestru­tura da CNI, Wagner Cardoso. “Vai diminuir o frete e a burocracia para 10% do mercado. A agora esperamos a finalizaçã­o do acordo em 2020 para beneficiar os outros 90%.”

“As empresas tomaram uma decisão que pode custar caro”, disse o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), Luís Fernando Resano. Ele alertou que os exportador­es podem simplesmen­te não encontrar transporta­doras para o Chile, pois esse setor é “extremamen­te volátil” e atua onde o retorno é maior. Com isso, o risco é haver aumento no preço do frete. O executivo informou também que as empresas de navegação foram pouco ouvidas nesse debate.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas diz que, com o fim da reserva de mercado, haveria redução de 45% no frete e a exportação poderia crescer 8,4%. Um estudo do Ipea indica que as mercadoria­s brasileira­s ficariam 5% mais competitiv­as sem o acordo.

“Vai diminuir o frete e a burocracia para 10% do mercado. Agora, esperamos a finalizaçã­o do acordo em 2010 para beneficiar os outros 90%.”

Wagner Cardoso

GERENTE EXECUTIVO DA CNI

 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO - 20/7/2009 ?? Regra. Mudança não abrange cargas em contêinere­s
FABIO MOTTA/ESTADÃO - 20/7/2009 Regra. Mudança não abrange cargas em contêinere­s

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