O Estado de S. Paulo

‘Discussão sobre questão de texto é inócua e falsa’

Liderança tucana diz que Temer tenta jogar no PSDB a culpa pela não aprovação da reforma da Previdênci­a

- Thiago Faria / BRASÍLIA

Um dos líderes dos chamados cabeças-pretas do PSDB, o deputado federal Daniel Coelho (PSDB-PE) atribui a falta de unidade do partido em relação à reforma da Previdênci­a às denúncias que envolvem o presidente Michel Temer. Segundo ele, o governo tenta jogar a culpa nos tucanos já prevendo que não terá condições de aprovar a proposta na Câmara. Mesmo com as sugestões de alterações no texto da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) enviadas pela bancada, Coelho disse que não há acordo. “Essa discussão da questão de texto é inócua e falsa.”

• Quais pontos ainda impedem o PSDB de fechar questão sobre a reforma?

O governo não tem votos, a questão não é o PSDB. O PSDB deu mais votos para as reformas do que qualquer outro partido. O problema é moral do presidente. Temos um presidente desmoraliz­ado, corrupto, que comprou voto para não ser investigad­o, e quer dizer que não se aprova a reforma por causa do PSDB? Isso é uma mentira. O problema está em todas as bancadas. Ele não consegue fechar questão em nenhuma bancada, nem na do PMDB. Primeiro, que ele cuide da base dele e depois venha falar sobre o PSDB. Eles só sabem cobrar o PSDB, o governo é muito equivocado na maneira com que se relaciona conosco. Ele tem de cobrar também PMDB, PR, PSD, PP, porque em todos esses partidos há mais deputados contra a reforma do que no PSDB.

• Mas caso as sugestões enviadas ao relator sejam atendidas, a bancada poderia dar mais votos?

As posições sobre alteração no texto não são de bancada, são individuai­s. Não sei nem quem defende alteração de texto na bancada. A questão é que essa discussão acontece pelo jornal. No plenário, não se considera nem a possibilid­ade dessa matéria entrar na pauta. O que o governo está fazendo é um processo de esticar com o PSDB, como se estivesse no PSDB o fator de discussão. O que impede não é o PSDB, não é isso. O que impede é o cenário onde nenhum partido tem posição a favor da bancada. Por que o PMDB não fecha questão e aí então começa a discutir com os aliados? Talvez se o Temer renunciar a reforma ande. Ele faz com que a reforma não tenha credibilid­ade e a gente tenha de explicar isso ao eleitor. Ele não assume a responsabi­lidade que é dele.

• O sr. concorda com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de que deputados não votam a reforma por serem contra o governo, e não pelo mérito da proposta?

Acho que o senador Tasso não está errado em sua avaliação. Acho inclusive que essa discussão da questão de texto é inócua e falsa. A discussão é sobre um governo que tem um presidente que mandou entregar mala de dinheiro para um deputado, que apresenta desoneraçõ­es a diversos setores econômicos, que faz aberta distribuiç­ão de cargos e dinheiro público e quer convencer a população de que há um déficit na Previdênci­a. Não adianta olhar só para o Parlamento, precisa ter credibilid­ade com a sociedade. Esse é o problema da reforma.

• Antes mesmo de assumir a presidênci­a do partido, o governador Geraldo Alckmin diz que o partido vai votar pela reforma. Ele já falou com a bancada?

Não é questão de diálogo. Ele será presidente do partido, ele tem liderança, tem a opinião dele. O PSDB é o partido que deu mais votos a favor de outras reformas. É possível que o PSDB seja o que dará mais apoio? Sim, é possível, mas o problema é que ele não tem nenhum apoio nas outras bancadas.

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LUIS MACEDO/AGENCIA CAMARA-4/4/2017 Divisão. Ação de Temer divide PSDB, diz Coelho

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