O Estado de S. Paulo

‘Patti Cake$’ e a força das mulheres

Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, longa de Geremy Jasper celebra o poder de atrizes extraordin­árias

- Luiz Carlos Merten

Geremy Jasper indigna-se com o que lhe diz o repórter. “C’mon. Gimme a break. Eles disseram mesmo isso?” No Festival do Rio, após a exibição de Patti Cake$ para a imprensa, muitos críticos comparavam a protagonis­ta do filme a uma ‘Precious branca’. “É tão idiota como dizer que todo filme de boxe repete Rocky, Um Lutador.” Jasper tem motivos de sobra para estar feliz com seu longa de estreia – uma produção da RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira. Desde sua apresentaç­ão em Sundance, em janeiro, Patti Cake$, que estreou na quinta, 30, virou o que a crítica chama de ‘crowd pleaser’, o popular filme que atrai as multidões.

Difícil, senão impossível, não se envolver com a história de Patricia Dombrowski, ou Killa P, ou Patti Cake$. Branca, obesa e pobre, exprime sua revolta em versos veementes. Seu sonho é ser reconhecid­a como (grande) rapper, mas tudo conspira contra a garota que vive na parte menos favorecida de New Jersey. A cidade, do outro lado do Rio Hudson, já é a Nova York dos pobres e Patricia ainda sofre por desempenha­r uma função que não gosta, numa lanchonete na qual a única coisa boa é sua amizade com o indiano Jehri. Ele a estimula mesmo nos momentos em que Killa P – a matadora – participa de disputas de rua com os afroameric­anos que dominam a vizinhança, e o rap.

Na entrevista abaixo, Jasper, dublê de músico e diretor de clipes, diz que nunca sonhou ser um cineasta de verdade, mas isso foi só até descobrir Federico Fellini. Na acurada descrição de seu meio pobre, eventualme­nte sórdido, Patti Cake$ possui inesperada abertura para voos poéticos. Essa mudança de tom foi um risco que o diretor se propôs assumir, e venceu. De cara, o filme começa feérico, no mundo de sonho idealizado por Patricia. A ruptura que a traz para o mundo real a confronta com a mãe devoradora de homens, e bêbada, além de cantora que não chegou lá, e a avó que a apoia. A grande descoberta é a do anarquista e misterioso Basterd, um músico que tem seu estúdio improvisad­o numa cabana no parque. A cabana, em si, é uma personagem à parte, pelo que revela de redimensio­namento possível para o sonho de Patricia, aliás, Patti, aliás, Killa P.

No limite, o grande confronto é quando ela participa de uma ‘rap battle’ com o campeão do pedaço. Mais importante que saber se Patricia vence, ou não, é descobrir que ela (re) assume o controle de sua vida. Isso inclui chegar a um entendimen­to com a mãe. A australian­a Danielle MacDonald foi preparada quase dois anos pelo diretor para virar uma rapper frente às câmeras. É maravilhos­a, e o seu volume físico é que leva algumas pessoas a pensar nela como Precious – a personagem de Gabourey Sidibe no filme de Lee Daniels. Por melhores que sejam os homens, é um filme de mulheres. Danielle, Bridgett Everett, a mãe, e Cathy Moriarty, a avó. Cathy rouba a cena. Se o Oscar for honesto, Michelle Pfeiffer, por Mãe, Assassinat­o no Expresso do Oriente, ou os dois, e Cathy, por Patti Cake$, estarão se digladiand­o pelo Oscar de coadjuvant­e no ano que vem.

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RT FEATURES Patti Cake$. Personagem comparada a ‘Precious’

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