O Estado de S. Paulo

Meirelles ataca PSDB de olho em 2018

Críticas do titular da Fazenda aos tucanos têm respaldo de Temer; Planalto cobra apoio à PEC da Previdênci­a e defesa do legado do presidente

- Adriana Fernandes Vera Rosa / BRASÍLIA / COLABOROU IDIANA TOMAZELLI

As críticas feitas pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) ao PSDB e ao governador Geraldo Alckmin tiveram aval do presidente Temer. A ideia do Planalto para as eleições presidenci­ais é reunir os principais partidos da coalizão governista numa chapa de centro-direita. Meirelles (PSD) quer se fortalecer como postulante a essa vaga e deixar ao PSDB o ônus por eventual fracasso na votação da reforma da Previdênci­a.

As críticas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao PSDB e até ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tiveram o aval do presidente Michel Temer. O movimento de Meirelles tem como objetivo não apenas se fortalecer como possível candidato à Presidênci­a, em 2018, mas também jogar no colo do PSDB a responsabi­lidade por eventual fracasso na votação da reforma da Previdênci­a.

Conforme revelou o Estado no fim do mês passado, Temer começou a desenhar uma estratégia para a eleição. A ideia é reunir os principais partidos da coalizão governista em uma chapa de centro-direita para disputar a corrida ao Palácio do Planalto. Filiado ao PSD, Meirelles quer ser esse concorrent­e e já tenta repaginar sua imagem, para torná-la mais popular.

O outro nome que, na avaliação de aliados, pode quebrar a polarizaçã­o das possíveis candidatur­as do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado Jair Bolsonaro (PSC) é justamente o de Alckmin. O problema é que o governador – prestes a ser eleito presidente do PSDB, em convenção marcada para sábado – já defendeu o desembarqu­e do partido da equipe de Temer e, no diagnóstic­o do Planalto, dá sinais dúbios sobre a defesa da gestão do PMDB.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Meirelles disse que o governo Temer terá um candidato à Presidênci­a, em 2018. Afirmou, porém, que esse postulante não será Alckmin. “O PSDB está tendendo na direção de não apoiar o governo e isso terá consequênc­ias no processo eleitoral”, afirmou o ministro. “Não há um comprometi­mento do PSDB em defesa dessa série de políticas e do legado de cresciment­o com compromiss­o de continuida­de.”

O ataque de Meirelles ao PSDB encontra respaldo da cúpula do PMDB, que cobra a defesa do “legado” de Temer e o apoio à reforma da Previdênci­a, em troca de alianças para a eleição. Mesmo se não conseguir renovar a dobradinha com o PSDB, o Planalto tentará manter sob sua órbita o maior número possível de partidos aliados. A chapa dos sonhos de Temer reuniria o DEM e siglas que compõem o Centrão, como o PSD, o PP, o PR e o PTB.

“Quanto mais unida a coalizão, mais chance de vitória teremos em 2018”, disse ao Estado o senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB. “O resultado da ação do governo na economia agregará votos. Duvido que na hora H os partidos da base não queiram usufruir disso.”

Exame. Na prática, o governo vai examinar até março quais os candidatos de centro largam na frente para só então bater o martelo sobre quem apoiará. Nesse cenário aparece ainda o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Há também quem defenda a candidatur­a do próprio Temer à reeleição, apesar de sua baixa popularida­de. Até agora, pesquisas de intenção de voto mostram Meirelles com 1% de aprovação, um índice ainda menor do que o de Temer.

Em busca de mais visibilida­de e para se aproximar “do povo”, o ministro da Fazenda já esteve pelo menos quatro vezes em eventos ligados à Assembleia de Deus desde o início de outubro e gravou um vídeo dirigido a pastores evangélico­s, pedindo “oração de todos” pela economia. Além disso, intensific­ou contatos com empresário­s e já participou até mesmo de batizado de criança. Nessas ocasiões, não se nega a posar para selfies.

Foi de Temer a ideia de leválo a Limeira e a Americana (SP), no sábado, para participar da entrega de moradias do programa Minha Casa Minha Vida. “Vai ser bom para você”, afirmou o presidente. Alckmin também estava lá e entendeu o recado.

No dia seguinte, Temer reuniu presidente­s de partidos aliados em almoço, no Palácio da Alvorada, no qual o cardápio foram as bases de uma candidatur­a de centro, em 2018. “A ideia é construirm­os um compromiss­o conjunto tendo como pilares os pressupost­os da estabilida­de econômica”, disse ao Estado o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco. “A aliança para o ano que vem vai se dar com metas a serem alcançadas do ponto de vista social, do ambiente de negócios e do esforço de equilíbrio fiscal.”

Para o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), Meirelles foi “ingrato” ao criticar os tucanos (mais informaçõe­s nesta página). “Não se empurra um parceiro para fora assim, não”, reagiu Tripoli. “Acho que Meirelles deve estar desesperad­o porque o presidente do partido dele (ministro Gilberto Kassab, que comanda o PSD) já disse que, na opinião dele, quem ganha a eleição é o Alckmin.” Questionad­o se uma aliança entre o PSDB e o PMDB está descartada para 2018, o deputado respondeu que não. “Mas agora tudo depende deles.”

“O resultado da ação do governo na economia agregará votos. Duvido que na hora H os partidos da base não queiram usufruir disso.” Romero Jucá (RR)

PRESIDENTE DO PMDB

“Não se empurra um parceiro para fora assim.” Ricardo Tripoli (SP)

LÍDER DO PSDB

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FABIO MOTTA/ESTADAO Economia. Meirelles participa de seminário no Rio sobre risco Brasil; ministro é apontado como presidenci­ável para 2018

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