LADRÃO USA CRIANÇA PARA ROUBAR PRÉDIO
Após dizer ao porteiro que era filho de proprietário, rapaz leva dinheiro e relógios
Porteiro liberou entrada da dupla ao acreditar que menino fosse filho do dono do apartamento. Após abrir a porta, empregada foi imobilizada. No roubo foram levados R$ 140 mil em objetos e moedas estrangeiras.
Às 13h18, um rapaz de camiseta vermelha, bermuda e boné virado para trás aparece na portaria de um edifício em Moema, na zona sul de São Paulo. Ao seu lado, um menino que não aparenta mais do que 10 anos. Os dois não têm dificuldade para entrar no prédio e subir até o 11.º andar, alvo do assalto. Trinta e dois minutos depois, deixam o local, com uma mala com US$ 1 mil, 500 libras esterlinas, dois celulares, além de um Rolex e outros três relógios – um deles de ouro –, avaliados em cerca de R$ 140 mil, ao todo.
O roubo foi na sexta-feira, dia 1.º, e acabou flagrado pelo circuito de câmeras do edifício. “A segurança é muito ruim. Não é só São Paulo, é o Brasil inteiro. Um caos”, afirmou ao Estado o engenheiro Júlio Sérgio Lopes, de 41 anos, o proprietário do imóvel.
No momento do crime, apenas a empregada, de 31 anos, estava no apartamento. Em depoimento à Polícia Civil, ela contou que, antes de ser surpreendida, atendeu a um interfone do porteiro, avisando que o filho do proprietário estava subindo com um amigo. Quando a campainha tocou, atendeu sem desconfiar. Na delegacia, disse, ainda, que havia sido contratada três meses atrás.
“Cadê o tio?”, indagou o rapaz, sorrindo, assim que ela abriu a porta. Segundo relatou à polícia, a empregada imaginou que o “tio” era Lopes. Respondeu, então, que o patrão não estava. Mas, por não suspeitar de roubo, deixou a dupla entrar no apartamento.
O relato da empregada continua: o mais velho pediu água e a empregada, com os dois caminhando atrás dela, foi buscar na cozinha. Lá, o mesmo rapaz sacou uma arma de fogo, apontou para a cabeça da vítima e anunciou o roubo.
Dominada, ela foi levada ao principal quarto do apartamento. O rapaz e a criança usaram cadarços para amarrar os pés e as mãos da vítima.
De acordo com o relato feito no 96.º Distrito Policial (Cidade Monções), delegacia na zona sul responsável por investigar o caso, eles perguntavam a toda hora onde estava escondido o cofre. Ela teria respondido que não sabia.
Presa no cômodo, a vítima conseguia ouvir os assaltantes revirando o apartamento. No armário de Lopes, os criminosos encontraram joias. Também acharam talões de cheques antigos e cartões de banco. Enfim, localizaram o cofre, que foi arrancado da parede com ajuda de uma barra de ferro e colocado dentro da mala.
Na delegacia, a empregada contou que a dupla falava ao celular com alguém – um terceiro suspeito. A ele, teriam dito que haviam dominado o porteiro e que o prédio “estava tomado”. Ela ainda foi trancada no escritório antes que eles saíssem.
Da mesma forma que entraram, os dois saíram: sem ser abordados por ninguém do prédio. Vídeos de câmeras de segurança mostram que o garoto mais novo carregava uma arma de brinquedo e um ursinho de pelúcia, ao sair do elevador.
Ao perceber que estava sozinha, a empregada usou os dentes para conseguir soltar as amarras. E, por uma janela, ela gritou por ajuda.
Depois dos pedidos de socorro da funcionária, um vizinho telefonou para a Polícia Militar. Como a vítima estava sem as chaves, os agentes precisaram arrombar a porta.
Susto. “Ela (a empregada) estava muito assustada, chorando desesperada”, contou Júlio Sérgio Lopes, que estava no trabalho na hora em que o apartamento, onde mora há seis anos, foi invadido. Foram os policiais que avisaram sobre o assalto.
Segundo ele, entre os relógios roubados havia um que pertenceu ao seu avô, com mais de 50 anos. “O prejuízo maior é o susto de alguém entrar na minha casa e revirar tudo.”
Os investigadores, de acordo com o boletim de ocorrência, solicitaram perícia no local. O objetivo é tentar encontrar impressões digitais que ajudem a identificar os envolvidos.
“Duas crianças entram no meu prédio, tomam a minha casa, dominam a empregada, arrebentam a casa inteira... Não dá para ter sossego nenhum”, afirmou o engenheiro.