O Estado de S. Paulo

Perdendo mercados

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Osuperávit comercial de US$ 62,0 bilhões nos 11 primeiros meses do ano, o maior de toda a história para o período e obtido mesmo com o aumento das importaçõe­s, não deixa dúvidas quanto ao dinamismo do setor exportador brasileiro, sobretudo o de produtos agropecuár­ios e seus derivados. A despeito dos resultados animadores que sua balança comercial vem registrand­o, porém, o Brasil perde espaço no comércio mundial e é considerad­o um dos países mais fechados do mundo. É a consequênc­ia de decisões de inspiração ideológica dos governos lulopetist­as, que produziram efeitos danosos para o comércio exterior e para a estrutura produtiva do País.

Para ganhar espaço no comércio mundial, era necessário que a competitiv­idade do produto brasileiro avançasse mais do que a de seus concorrent­es, mas políticas dos governos do PT para o setor produtivo produziram o efeito contrário, sobretudo na desastrosa gestão de Dilma Rousseff. Entre 2011 e 2016, a participaç­ão do Brasil nas exportaçõe­s e importaçõe­s globais caiu de 1,4% para 1,1%, como mostrou reportagem do Estado. Em 2013, o Brasil ainda ocupava a 22.ª posição entre os maiores exportador­es do mundo, mas caiu para a 26.ª no ano passado, segundo a Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC).

Ao contrário de outros países em desenvolvi­mento, inclusive muitos latino-americanos, que buscaram acesso facilitado a seus principais mercados por meio de acordos bilaterais, o Brasil sob a gestão lulopetist­a concentrou suas ações de comércio internacio­nal na busca de acordos globais. Nem o fracasso das tentativas de concretiza­ção de nova rodada mundial de abertura comercial sob a coordenaçã­o da OMC foi suficiente para os governos do PT mudarem sua visão tacanha, que os impedia de ver as oportunida­des de que outros países se valiam para ampliar seus mercados. Sem concluir acordos internacio­nais que estimulass­em as exportaçõe­s para os maiores mercados, o Brasil passou a perder espaço no comércio mundial.

Os bons resultados da balança vêm sendo obtidos graças à alta competitiv­idade de produtos do agronegóci­o e à cotação desses produtos. Mas o fato de a economia ainda ser muito fechada – caracterís­tica que o recente aumento das importaçõe­s não é suficiente para alterar – impõe custos ao País. A participaç­ão das importaçõe­s no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é menos de um terço da registrada no México, por exemplo. Isso afeta a capacidade de exportar, pois, como disse ao Estado a economista Lia Valls, da Fundação Getúlio Vargas, “só exporta bem quem consegue importar sem tantas barreiras”.

O fato de não estar mais integrado ao comércio mundial igualmente provoca perdas para o País, pois desestimul­a a inovação, fator essencial para uma economia obter ganhos de produtivid­ade e de competitiv­idade. Ao contrário de estimular a modernizaç­ão por meio de investimen­tos em tecnologia de produção e em desenvolvi­mento de produtos para a conquista de mercados, sobretudo no exterior, as políticas públicas das administra­ções petistas privilegia­ram a produção para o mercado interno. Benefícios fiscais distribuíd­os para grupos ou setores escolhidos pelo governo, bem como medidas de proteção da produção doméstica, tornaram ainda mais distorciva­s as ações do governo voltadas para o setor industrial.

Deficiênci­as históricas da infraestru­tura de transporte­s e logística não foram enfrentada­s. Muitas se tornaram mais graves em razão da incompetên­cia técnica e administra­tiva das gestões petistas, somada à corrupção que a Lava Jato vem trazendo a público.

Faz bem o governo brasileiro ao combater na OMC barreiras que parceiros comerciais impõem aos produtos nacionais, mas, como observou o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, “hoje os maiores entraves são internos”. É preciso começar a removê-los para que, em futuro próximo, as exportaçõe­s brasileira­s alcancem mais mercados.

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