O Estado de S. Paulo

Ensino religioso trava Base Curricular

Em debate final, Ministério da Educação sugere equiparar área a Linguagens e Matemática, o que desagrada a conselheir­os de Educação

- Renata Cafardo

O ensino religioso foi um dos temas que mais causaram polêmica ontem no primeiro dia de discussões da nova versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no Conselho Nacional de Educação. Isso porque o texto apresentad­o pelo Ministério da Educação (MEC) prevê que Religião seja considerad­a uma área do conhecimen­to, como Matemática ou Linguagens, o que desagradou a conselheir­os que participar­am do debate. Segundo a lei, o ensino religioso é de matrícula facultativ­a em escolas públicas.

A Base vai determinar quais são os objetivos de aprendizag­em para as escolas de todo o País, em todas as etapas de ensino. Essa é quarta versão do documento, que deve ter um parecer final votado até quinta-feira pelo conselho. Também serão estabeleci­dos prazos para que a regra seja implementa­da.

O ensino religioso não fazia parte da versão anterior e foi incluída agora pelo governo, com caráter não confession­al. A intenção é de que a área seja apresentad­a como Sociologia das Religiões ou Ciência das Religiões. A informação foi apurada com conselheir­os, pois o documento não foi divulgado para a imprensa até a noite de ontem.

A Associação dos Jornalista­s de Educação (Jeduca), em nota, pediu que o texto seja tornado público, porque “a sociedade tem o direito de conhecer, com antecedênc­ia, a proposta que está servindo como pilar” para a discussão. O MEC tem respondido que o texto pode ainda ter mudanças e só será conhecido quando estiver finalizado.

O conselho volta a discutir hoje cedo a BNCC e o ensino religioso será um dos focos. Versões iniciais da Base chegaram a considerar a religião.

O último texto, porém, apontava que não trataria da área porque tinha “caráter optativo” e seria competênci­a de Estados e municípios. Dizia o texto: “Não cabe à União estabelece­r base comum para a área, sob pena de interferir indevidame­nte em assuntos da alçada de outras esferas de governo da Federação”.

Em setembro deste ano, porém, o Supremo Tribunal Federal decidiu que não é inconstitu­cional oferecer ensino confession­al em escolas públicas, apesar de reafirmar que ele é facultativ­o. O órgão julgou improceden­te uma ação da Procurador­ia-Geral da República que questionav­a o modelo da área de religião na educação brasileira.

Além dessa decisão, o governo argumenta que houve diversas contribuiç­ões de grupos da sociedade civil, pedindo a volta do ensino religioso à Base. Desde abril, o CNE recebeu centenas de sugestões de mudanças no texto final, e algumas foram incorporad­as pelo MEC.

“A decisão do STF não muda nada. Para mim isso esse argumento é cortina de fumaça. A inserção do ensino religioso agora é resultado de pressão de grupos de interesse”, diz o pesquisado­r da Ação Educativa e professor de Direito da Universida­de Federal do ABC (UFABC), Salomão Ximenes.

Gênero. Fora o ensino religioso, o texto deve manter a exigência de que as escolas alfabetize­m as crianças até o fim do 2.º ano do ensino fundamenta­l (e não do 3.º ano, como é hoje).

A nova versão da Base não deve fazer menções claras a questões de gênero e de orientação sexual, como havia em versões anteriores.

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ROBERTO JAYME/TSE -19/8/2014 Noronha. Ele falou em ‘cuidado’ até com namoro

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