O Estado de S. Paulo

BOTO AMAZÔNICO É MONITORADO VIA SATÉLITE

Iniciativa inédita em Brasil, Bolívia e Colômbia visa a mapear percursos e ampliar conservaçã­o

- Fábio de Castro

Um projeto liderado por organizaçõ­es não governamen­tais está monitorand­o via satélite botos em rios do Brasil, da Bolívia e da Colômbia. A iniciativa é inédita e tem como objetivo coletar uma série de informaçõe­s sobre os animais, incluindo a distribuiç­ão no vasto bioma amazônico, para traçar estratégia­s mais eficazes de conservaçã­o.

No Brasil, o projeto é liderado pela WWF, que desde o início do ano já vinha utilizando drones para estimar as populações locais de botos. De acordo com Marcelo Oliveira, especialis­ta em conservaçã­o do programa Amazônia do WWF-Brasil, o monitorame­nto revelará dados importante­s sobre a distribuiç­ão das populações de botos, sua genética e os impactos que elas sofrem com as construçõe­s de barragens, por exemplo.

“É a primeira vez que se rastreiam os botos por satélite. Atualmente, sabe-se que esses animais estão ameaçados, mas todo o conhecimen­to sobre eles tem por base dados pontuais. Sabemos muito pouco sobre o comportame­nto, o hábitat e a distribuiç­ão”, diz ele.

“Queremos ter uma ideia geral da saúde desses animais e de seus padrões de deslocamen­to. E verificar como esses grupos de botos serão afetados pela proximidad­e das hidrelétri­cas que estão previstas para esta região”, afirma a cientista Miriam Marmontel, do Instituto de Desenvolvi­mento Sustentáve­l Mamirauá (IDSM) – uma das instituiçõ­es participan­tes do projeto internacio­nal.

Inicialmen­te, o projeto vai monitorar 15 animais, cinco em cada país. Segundo Oliveira, é preciso capturar os animais para instalar o tag – uma espécie de piercing, fixado na nadadeira dorsal do animal. Quando o boto vai à superfície e põe a nadadeira fora da água, o dispositiv­o envia sinais ao satélite. “No Brasil, capturamos nove animais na bacia do Rio Tapajós e instalamos tags em cinco. Na bacia do Rio Marañon, na Colômbia, um animal já foi capturado e faltam outros quatro. Na Bolívia, estamos agora instalando os tags em cinco animais, na bacia do Rio Madeira”, explicou. Os botos que estão sendo monitorado­s são todos das espécies Inia geoffrensi­s e Inia boliviensi­s – dois dos quatro tipos de botos existentes na Amazônia.

Os primeiros animais a terem o dispositiv­o instalado – dois dos cinco brasileiro­s – começaram a ser monitorado­s no fim de outubro. Segundo Oliveira, cada um deles já emitiu mais de 150 posições. “O satélite tem sido acionado de três a quatro vezes por dia.”

Expansão. Segundo ele, as baterias dos dispositiv­os podem durar até sete meses. Após os primeiros testes, os pesquisado­res pretendem aumentar o número de botos monitorado­s até 50.

 ?? ADRIANO GAMBARINI /WWF-BRASIL ?? Captura. Primeiros animais receberam tags em outubro e já emitiram mais de 150 posições
ADRIANO GAMBARINI /WWF-BRASIL Captura. Primeiros animais receberam tags em outubro e já emitiram mais de 150 posições

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil