O Estado de S. Paulo

Para S&P, janela de oportunida­de está se fechando

Executivo da agência de classifica­ção de risco diz que aprovar reforma da Previdênci­a é vital para enfrentar a crise fiscal

- Vinicius Neder / RIO

As atenções da agência de classifica­ção de risco Standard & Poor’s (S&P), ao analisar a nota do Brasil nos próximos meses, estão voltadas para as questões domésticas porque a origem da crise de endividame­nto vivida pelo País vem de problemas fiscais, assim como ocorreu com a Grécia. Segundo o executivo chefe global de ratings soberanos da S&P, Moritz Kraemer, a reforma da Previdênci­a seria um primeiro passo na direção de enfrentar a crise fiscal, percurso que exigirá várias reformas ao longo de vários anos, passando por mais de um governo.

“Se você tem um longo caminho a percorrer, é melhor começar mais cedo, pois assim você saberá que chegará a tempo”, afirmou Kraemer ao Estado, após participar de um seminário ontem na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.

Entre as reformas, o executivo destacou a previdenci­ária. “Ela terá um importante efeito de sinalizaçã­o. Se você não pode dar o primeiro passo, que confiança teremos? Se o Brasil não tomar esse caminho, o teto de gastos é inatingíve­l”, disse Kraemer.

Prazos. O último relatório da S&P sobre o Brasil foi divulgado em agosto, quando a agência reafirmou a nota BB, com perspectiv­a negativa. Segundo Kraemer, o documento alertava que um novo rebaixamen­to poderia ser decidido no prazo de seis a nove meses. De lá para cá, se passaram “três ou quatro meses” e a “janela de oportunida­de” para a aprovação da reforma da Previdênci­a está se fechando, diante do ano eleitoral em 2018. “Se não virmos nenhum sinal de que as instituiçõ­es são capazes de fazer uma coalizão em torno de um projeto de reforma pelo bem do País no longo prazo, podemos reavaliar nossa visão”, afirmou Kraemer.

Normalment­e, lembrou o executivo, crises de endividame­nto são associadas a problemas na balança de pagamentos. Foi assim, disse, em outras crises. Uma das poucas exceções foi a Grécia, onde o déficit das contas públicas foi o gatilho: “Embora a Grécia tivesse um grande desequilíb­rio externo, o gatilho real para investidor­es perderam sua fé foi quando o déficit foi subindo e subindo até que ele fosse duas vezes maior do que o esperado.”

Para o executivo, embora a atual crise do Brasil também tenha origem fiscal, é muito diferente porque o lado externo está bom: “Mas o lado fiscal está bastante abaixo da média. Esse é o real calcanhar de Aquiles.”

Reforma previdenci­ária “Se você não pode dar o primeiro passo, que confiança teremos? Se o Brasil não tomar esse caminho, o teto de gastos é inatingíve­l.” Moritz Kraemer EXECUTIVO DA S&P

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SIMON DAWSON /BLOOMBERG Confiança. Para Kraemer, da S&P, reforma é necessária

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