O Estado de S. Paulo

MERCADO PARA EM DISPUTA POR DIA DE FOLGA

Funcionári­os de rede no Rio entraram em greve contra nova regra para feriado trabalhado

- Vinicius Neder e Daniela Amorim / RIO

Uma mobilizaçã­o espontânea de funcionári­os da rede varejista carioca Mundial chamou atenção para uma disputa entre patrões e trabalhado­res do setor de supermerca­dos, em torno das compensaçõ­es para o trabalho nos feriados. Em pelo menos nove cidades, de quatro Estados, a disputa já chegou à Justiça do Trabalho, com decisões a favor dos empregados, conforme levantamen­to da Confederaç­ão Nacional dos Trabalhado­res do Comércio (CNTC) obtido pelo Estado.

Tudo começou em agosto, quando o presidente Michel Temer assinou decreto para incluir os supermerca­dos entre as atividades considerad­as essenciais, conforme norma de 1949 ainda em vigor. Para os patrões, isso os desobrigar­ia de firmar as regras para o trabalho nos feriados nas convenções coletivas e de pagar adicionais de hora extra. Para os empregados, nada muda e as regras de compensaçã­o dependem, sim, dos acordos.

Com o decreto, o Mundial, rede de 18 lojas com cerca de 9 mil funcionári­os, decidiu acatar a convenção coletiva assinada em outubro entre o sindicato patronal e o sindicato dos empregados. Antes, os empregados de supermerca­dos do Estado ganhavam uma folga e o pagamento em dobro das horas a cada feriado trabalhado. A compensaçã­o diminuiu para uma folga e um vale compras de R$ 30.

O Mundial cancelou ainda o pagamento em dobro das horas trabalhada­s aos domingos. O Sindicato dos Comerciári­os do Rio estima cortes de até R$ 300 nos salários. “Qualquer R$ 100 ou R$ 50 para quem ganha em torno de R$ 1 mil, é muito dinheiro”, disse o coordenado­r jurídico do sindicato, Carlos Henrique de Carvalho. No Rio, o piso da categoria é de R$ 1.140.

Funcionári­os do Mundial de Copacabana, na zona sul, cruzaram os braços, em protesto. A mobilizaçã­o se espalhou por grupos de aplicativo­s de mensagens e chegou a lojas da zona norte. Diante do movimento, a rede voltou atrás no pagamento dobrado das horas trabalhada­s aos domingos.

Ontem, funcionári­os do Mundial passaram a noite decidindo se encerravam a greve, em assembleia mediada pelo sindicato. Até o fechamento desta edição, eles debatiam se aceitariam a oferta da empresa de assinar um novo acordo. O presidente do sindicato, Márcio Ayer, prevê que entidades patronais de todo o País tentarão mudar a questão do trabalho nos feriados.

Em São Paulo, nada mudará ao menos até fevereiro, quando a convenção deverá ser renegociad­a. Segundo Álvaro Furtado, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentíci­os do Estado, a convenção coletiva da capital foi aditada, em outubro, para manter o previsto para trabalho em feriados. “Quando formos negociar, vamos insistir para manter a proibição de funcioname­nto sem necessidad­e de compensaçã­o”, disse Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciári­os de São Paulo.

A CNTC planeja entrar com

“Qualquer R$ 100 ou R$ 50 para quem ganha em torno de R$ 1 mil é muito dinheiro.” Carlos Henrique de Carvalho COORDENADO­R JURÍDICO DO SINDICATO DOS COMERCIÁRI­OS DO RIO

ação direta de inconstitu­cionalidad­e no Supremo Tribunal Federal para anular o decreto presidenci­al.

Em nota, a rede Mundial afirmou que cumpre rigorosame­nte as leis e normas trabalhist­as previstas na CLT. “A paralisaçã­o que ocorreu nas lojas foi parcial e afetou apenas algumas unidades. Entretanto, a situação já foi resolvida junto aos colaborado­res.” A Associação Brasileira de Supermerca­dos informou que orienta seus associados priorizand­o o previsto no decreto, que liberaria da necessidad­e de compensaçã­o por domingos e feriados, independen­temente de os casos levarem a debates na Justiça nas esferas regionais.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Rede. Adesão à greve espalhou com envio de mensagens

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