O Estado de S. Paulo

Casamento real

Um tour por Windsor e os pitacos de Mr. Miles

- miles@estadao.com

Nosso bravo viajante foi novamente chamado ao Palácio de Buckingham para uma conversa com sua soberana, a rainha Elizabeth II. Antes mesmo que o chá fosse servido, Mr. Miles antecipou o tema da conversa, elogiando fartamente a sapiência da monarca ao aceitar o casamento de seu neto Harry com a católica, divorciada e norte-americana Meghan Markle. Na verdade, a jovem rainha (para os padrões de Mr. Miles, sem dúvida) gostaria de manifestar o tamanho de sua insatisfaç­ão, mas o nosso correspond­ente foi rápido: “Congratula­tions, Her Majesty : os tempos são outros e Meghan parece-me uma linda princesa.”

A rainha franziu o seu cenho real, arriscou um sorriso e passou a falar de rosas colombiana­s. Ao contrário do que se especula, Mr. Miles ainda não foi convidado para ser padrinho.

A seguir, um pequeno resumo da linda carta da semana, escrita por Ricardo Galvão, morador de Boituva e sensível apreciador de fenômenos naturais.

Conte-me, caro amigo, quais foram o nascente e o poente mais encantador­es que o senhor teve a oportunida­de de registrar em sua vida e qual a sensação do momento.

Ricardo Galvão, por e-mail

“Well, my friend: ao mesmo tempo em que agradeço pela linda pergunta, sou obrigado a dizer que nascentes e poentes podem ser belos em todo o planeta, mas nada os faz mais inesquecív­eis do que o momento pelo qual estamos passando e a companhia que temos como espectador­es.

O mais apaixonant­e nascer do sol de que me recordo foi o que vivi, a long time ago, na costa de Capri com a sempre querida Claudia (N. da R.: Claudia Cardinale, atriz italiana nascida na Tunísia). Foi quando compreendi que uma noite apaixonada transforma-se, quase sempre, em uma alvorada apaixonant­e.

O sol oblíquo das horas em que o dia começa e se acaba pode ser, on the other hand, um companheir­o para momentos muitos tristes.

Li o poema de um amigo que narrava: ‘No poente há um doente / Arde de febre / Em silêncio envolvente / Seu rosto é tão quente / que se apurpura. Mas o enfermo não murmura / Cai lentamente em insana candura.’

Melancólic­o, isn’t it?

De qualquer maneira, um dos lugares mais fascinante­s que conheço para acompanhar o fenômeno é a curiosa restinga da Lagoa dos Patos, em território gaúcho. Nesse lugar outrora quase inalcançáv­el, o sol nasce no mar e põe-se na lagoa. Andando algumas centenas de metros, você vê o sol nascer e se por na água, sendo que o mar é bravio e a lagoa é plácida – o que gera efeitos estéticos grandiosos.

Há poentes épicos na África, onde o sol vermelho emoldura baobás ou elefantes; na mesma latitude, alguns graus apenas abaixo do Trópico de Capricórni­o, o sol é uma esfera repleta de reflexos – dir-se-ia um varal de sóis – quando se põe sobre as águas do Pantanal ou do Delta do Okavango.

No auge do verão europeu, é possível passar horas em Santorini, for instance, vendo um poente quase inacabável. O sol aproxima-se da linha do horizonte, mas ambos caminham juntos longamente antes de se entremergu­lharem.

Anyway, my friend, esteja certo de que em Boituva ou em Tallin, na Estônia, os dias sempre começam e terminam mais belos do que serão ou do que foram.

São as horas que mais me encantam. E que adoro chamar de horas de cristal.

Do you know what I mean?”

É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIO­S ULTRAMARIN­OS

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MIKE BLAKE/REUTERS
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