O Estado de S. Paulo

Orquestra Refugi mostra primeiro CD no Pompeia

- Julio Maria

O músico Carlinhos Antunes conseguiu um feito há 15 anos. Ao voltar de uma temporada de quase cinco vivendo fora do Brasil, chegou percebendo uma peculiarid­ade na tão evocada capacidade de São Paulo acolher os povos do mundo. Não era bem assim, como viu Carlinhos. “É uma cidade de todos os povos, mas eles não se comunicam. Quando voltei, resolvi fazer um grupo para aglutiná-los. Antes, eles só tocavam em seus próprios guetos.”

Depois de percorrer o mundo com sua Orquestra Mundana, Carlinhos inaugura um braço de seu projeto com o lançamento do primeiro disco da Orquestra Mundana Refugi pelo Selo Sesc, formada por músicos refugiados e imigrantes de países em situação de conflito. O espetáculo será apenas nesta quinta, 7, na comedoria do Sesc Pompeia, a partir das 21h30.

A Refugi tem em sua formação músicos da França, Cuba, Palestina, Síria, Congo, Haiti, Irã e Guiné-Conacri, além de brasileiro­s. “Depois de juntálos nessa ideia de integração de verdade, o grupo começou a ganhar sua linguagem própria”, conta Antunes. “O grande desafio é compor e arranjar pensando nos vários universos que estão ali. Imagens do grupo estão sendo captadas pela Agência das Organizaçõ­es das Nações Unidas para Refugiados, a Acnur, para um especial de TV.

O resultado do grande encontro de Antunes é de uma riqueza de culturas de referência­s na qual cada povo fica visível, o contrário do pastiche cultural em projetos que fazem as particular­idades musicais serem dissolvida­s em nome de uma world music. Ayacucho é um tema tradiciona­l mexicano, cheio de atmosfera e arranjos vocais latino-americanos. Uma trilogia, a terceira faixa do disco, mostra temas tradiciona­is da Palestina, Irã e Andaluzia. Os instrument­os que os reproduzem vão do kanun ao acordeom, da cítara de martelo ao bouzouki.

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DANIEL KERSYS Do mundo. Integrante­s de países em situações de conflito se juntam em linguagem comum

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