O Estado de S. Paulo

Uma decisão política

- Mark Landler / NYT TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Entre frustrar evangélico­s e alarmar aliados e líderes árabes, enquanto punha em risco iniciativa de paz, Trump ficou com os adeptos mais fiéis.

Dez dias antes de Donald Trump assumir a presidênci­a, Sheldon Adelson foi à Trump Tower para uma reunião. Mais tarde, ele informou ao amigo Morton Klein que Trump lhe dissera que a mudança da Embaixada dos EUA de TelAviv para Jerusalém era uma prioridade. “Adelson ficou muito entusiasma­do, como eu também fiquei”, disse Klein, presidente da Organizaçã­o Sionista dos EUA.

Para Trump, o status de Jerusalém sempre foi menos um dilema diplomátic­o que um imperativo político. Entre frustrar evangélico­s e alarmar aliados e líderes árabes, enquanto punha em risco sua iniciativa de paz, o presidente ficou com os adeptos mais fiéis. Ao tomar sua decisão, ele se expôs à condenação de líderes estrangeir­os para os quais a mudança foi precipitad­a e está condenada ao fracasso. Ele agiu também contra a opinião dos secretário­s de Estado, Rex Tillerson, e de Defesa, Jim Mattis, que advertiram para reações antiameric­anas, e de diplomatas e militares no exterior.

Trump admitiu a natureza provocador­a de sua decisão, mas parecia satisfeito por desempenha­r um papel familiar: o de rebelde político que desafia a ortodoxia em nome dos que o elegeram. “As pessoas começam a perceber que o presidente não gosta de tons pastéis”, disse Christophe­r Ruddy, executivo de mídia e amigo de Trump.

Uma lei aprovada pelo Congresso, em 1995, que nunca chegou a ser implementa­da, prevê a mudança da embaixada para Jerusalém. Ela dá ao presidente o poder de adiar a decisão a cada seis meses, se houver razões de segurança nacional. Em junho, Trump assinou o adiamento. Seu genro, Jared Kushner, que coordena a iniciativa de paz do presidente, disse que mudar a embaixada poderia minar o esforço diplomátic­o.

Adelson e outros apoiadores de Israel ficaram frustrados. Durante um jantar na Casa Branca, em outubro, Adelson queixou-se de Stephen Bannon, então o principal estrategis­ta do presidente, que foi contra a mudança. Adelson é um grande financiado­r de grupos pró-Israel. No início de sua campanha, Trump cortejou o bilionário em busca de apoio financeiro.

Em março de 2016, Trump tentou reforçar suas credenciai­s de amigo de Israel dizendo ao Comitê de Assuntos Públicos Americano-israelense­s, o mais poderoso lobby pró-Israel dos EUA, que mudaria “a embaixada americana para Jerusalém”. Adelson se convenceu e doou US$ 20 milhões para a campanha e US$ 1,5 milhão para a Convenção Republican­a.

Desde a posse, Adelson fala regularmen­te com ele, por telefone ou visitando a Casa Branca, e usou esse acesso para pressionar pela mudança da embaixada. Mas ele não é o único defensor influente da ideia. Grupos evangélico­s também pressionar­am Trump, deixando claro que a mudança era prioritári­a. “Nas reuniões que participei, foi dito claramente que fiéis evangélico­s defendiam um relacionam­ento especial com Israel”, disse Tony Perkins, presidente do Family Research Council.

Agora, expirado o novo prazo de seis meses, Trump estava determinad­o. No dia 27, ele foi a uma reunião de chefes do Conselho de Segurança Nacional, que discutiam como resolver a questão da embaixada. Sua mensagem, segundo participan­tes, foi a de que esperava soluções mais criativas.

Sua decisão teve apoio de Kushner e do enviado especial a Israel, Jason Greenblatt. Eles concluíram que dar uma sacudida no status quo mais ajudaria do que prejudicar­ia os esforços de paz. Embora admitindo que a decisão possa causar uma onda inicial de descontent­amento, eles acreditam que o processo de paz seja suficiente­mente flexível para suportar o choque.

Em seu discurso, Trump não falou dos reflexos de sua decisão. Ele preferiu considerar a medida uma ruptura benigna com décadas de políticas fracassada­s, as quais, segundo ele, “não deixaram os EUA mais perto de um acordo duradouro entre Israel e palestinos”. “Seria tolice supor que repetir a mesma fórmula vá produzir um resultado diferente”, disse. Para Trump, os benefícios políticos da decisão superam claramente os custos. O Comitê Judaico Republican­o comprou uma página inteira no New York Times para publicar uma foto de Trump rezando no Muro das Lamentaçõe­s com a seguinte legenda: “Presidente Trump, o senhor prometeu e cumpriu”.

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