O Estado de S. Paulo

Fachin manda bloquear obra pivô da queda de Geddel

A pedido da PGR, Fachin congela parte de empreendim­ento para o qual o ex-ministro havia pedido liberação em área tombada de Salvador

- Valmar Hupsel Filho

O ministro Edson Fachin ordenou a indisponib­ilidade de parte de sete prédios erguidos ou em construção em Salvador que teriam recebido dinheiro de empresas ligadas à família de Geddel Vieira Lima. Entre eles, está a obra pivô do pedido de exoneração do ex-ministro.

Com a justificat­iva de que vê “indícios suficiente­s” da prática do crime de lavagem de dinheiro, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, determinou a indisponib­ilidade de parte de sete edifícios construído­s ou em construção em Salvador, que teriam recebido aportes de dinheiro de empresas ligadas à família do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDBBA). Entre eles está o La Vue, pivô do pedido de exoneração do peemedebis­ta da Secretaria de Governo em novembro do ano passado.

A decisão atende a pedido feito pela procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, na denúncia contra Geddel, seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), a mãe dos dois, Marluce Vieira Lima, dois assessores da família e o engenheiro Luiz Fernando Machado da Costa Filho, dono da construtor­a Cosbat Construção e Engenharia.

O valor total de bens da família Vieira Lima tornado indisponív­el é de R$ 13 milhões, referente a investimen­tos em empreendim­entos da Cosbat em Salvador. Na decisão, Fachin afirmou que “ressoam indícios de que os denunciado­s aplicaram altos valores em investimen­tos no mercado imobiliári­o, tanto que confirmada a aquisição, perante a empresa Cosbat Construção e Engenharia, de várias cotas de participaç­ão em imóveis em construção no Estado da Bahia”. Ao menos R$ 5,2 milhões foram repassados em dinheiro pela família Vieira Lima à empresa, conforme denúncia da PGR.

A Polícia Federal apontou indício de lavagem de dinheiro quando, nos desdobrame­ntos das investigaç­ões da Operação Tesouro Perdido, que resultou na apreensão de R$ 51 milhões em dinheiro em um apartament­o, recebeu de Machado uma lista de investimen­tos feitos pela família Vieira Lima em empreendim­entos da Cosbat. Segundo relato do engenheiro à PF, os pagamentos foram feitos por meio de cheques e dinheiro em espécie.

Pivô. Na lista entregue pelo engenheiro constam dois cheques emitidos pela M&A Empreendim­entos, empresa que leva as iniciais dos pais de Geddel, Marluce e Afrísio – morto em janeiro deste ano. São pagamentos nos valores de R$ 1,7 milhão e R$ 161 mil, respectiva­mente em 2014 e 2015, referentes ao Edifício La Vue, cujas obras, estão paralisada­s desde novembro do ano passado por determinaç­ão da Justiça Federal. Na decisão, Fachin ordenou a indisponib­ilidade de 20% do empreendim­ento.

O imbróglio em torno da construção do prédio foi determinan­te para a saída de Geddel do governo do presidente Michel Temer. O peemedebis­ta pediu exoneração depois de ser acusado pelo então ministro da Cultura, Marcelo Calero, de tráfico de influência.

Localizada em área nobre da capital soteropoli­tana, a obra estava sendo construída no entorno de área tombada e, por isso, havia a recomendaç­ão de que não ultrapassa­sse limites de altura determinad­os pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan).

Calero afirmou ter sofrido pressão de Geddel, que à época era um dos mais poderosos ministros de Temer, para que o Iphan, órgão subordinad­o ao Ministério da Cultura, liberasse a construção do prédio mesmo com recomendaç­ão técnica em sentido contrário.

À época, Geddel disse ao Estado que adquiriu um apartament­o no La Vue e negou ser “sócio oculto” do empreendim­ento. A defesa do ex-ministro, que está preso desde setembro deste ano no caso dos R$ 51 milhões, foi contatada ontem, mas preferiu não se manifestar.

A assessoria da Cosbat também foi acionada, mas não deu retorno até a conclusão desta edição. O ex-ministro Marcelo Calero não atendeu ao telefone.

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:DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 8/9/2017 Papuda. Geddel está preso desde setembro em Brasília

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