O Estado de S. Paulo

Por reforma, Temer estuda devolução de cargos a infiéis

Contra o relógio. Partidos com ministério­s, como o PSD, de Henrique Meirelles e Gilberto Kassab, não decidiram se vão obrigar seus deputados a votarem a favor da reforma; mesmo sem somar os 308 votos, governo marcou votação para dia 18 de dezembro

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA Karin Sato / SÃO PAULO COLABOROU DAIENE CARDOSO

De olho em 30 votos a favor da reforma da Previdênci­a, Michel Temer estuda a devolução de cargos a deputados que se posicionar­am a favor do prosseguim­ento das investigaç­ões contra ele na Câmara. Segundo apurou o Estado, o governo tem 278 votos, mas precisa de 308 para aprovar as mudanças na aposentado­ria. Mesmo assim, marcou a votação para o dia 18. A aprovação da Previdênci­a já compromete­u R$ 43,2 bilhões dos cofres públicos.

O governo já compromete­u R$ 43,2 bilhões nos próximos anos para aprovar a reforma da Previdênci­a, mas o esforço ainda não favorece a contabilid­ade de votos do Planalto. Até agora, só o PMDB e o PTB decidiram obrigar seus deputados a apoiar a proposta. Partidos com ministério­s, como o PSD – de Henrique Meirelles e Gilberto Kassab – além do DEM, ainda não tomaram essa decisão. O PP, que comanda Saúde, Cidades e Agricultur­a não obrigará o voto a favor, mas disse que vai garantir 90% de votos favoráveis da bancada.

Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou a investidor­es que, caso a votação não se viabilize antes das eleições do ano que vem, confia na aprovação em 2019, segundo apurou o Estadão/Broadcast. A indicação de Maia foi interpreta­da como uma forma de preparar o mercado para uma eventual frustração da aprovação do projeto ainda no governo Michel Temer.

Segundo fontes do mercado, o presidente da Câmara afirmou que seria possível aprovar, em 2019, uma proposta até melhor do que a atual. Oficialmen­te, porém, Maia negou que tenha feito tal afirmação. Ontem, além disso, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), anunciou que a votação foi marcada para dia 18.

Mas há o risco de esvaziamen­to do Congresso nessa data por causa da decisão do presidente do Congresso, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), de convocar sessão para o dia 12 com o objetivo de votar o Orçamento de 2018. O movimento de Eunício, que dá sinais dúbios em relação a seu apoio à aprovação da reforma ainda este ano, pode provocar a debandada dos parlamenta­res antes do dia 18.

Eunício também presidirá sessão extraordin­ária do Senado para garantir aprovação de uma série de projetos que foram negociados como barganha pela reforma, entre eles renegociaç­ões de débitos tributário­s de micro e pequenas empresas e do setor rural, além da compensaçã­o de R$ 1,9 bilhão a Estados e municípios por conta de desoneraçõ­es de ICMS nas exportaçõe­s. No total, já foram comprometi­dos R$ 43,2 bilhões.

A avaliação de técnicos do governo é de que Temer cedeu antes da hora, colocando o ajuste fiscal em risco. A preocupaçã­o da equipe econômica é que o aumento das despesas, principalm­ente em 2018, comprometa o teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação. Além disso, renúncias de receitas podem deixar o governo sem margem de manobra para cumprir a meta fiscal em caso de qualquer frustração nas receitas. O ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, minimizou o impacto das concessões. “Tudo que se conceder terá de estar dentro do teto e da meta fiscal”, afirmou.

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