O Estado de S. Paulo

Supremo autoriza quebra de sigilo de Aécio

Operação Patmos. Ministro do Supremo atende a pedido da PGR para rastrear origem e destino de recursos; decisão compreende período da campanha presidenci­al de 2014

- Luiz Vassallo

Marco Aurélio Mello decretou a quebra dos sigilos fiscal e bancário do senador Aécio Neves (PSDBMG) de 2014 a 18 de maio deste ano. Ele atendeu a pedido da procurador­a-geral, Raquel Dodge, para rastrear recursos supostamen­te ilícitos. O senador é acusado de receber R$ 2 milhões da JBS. Também ontem, o ministro revogou a prisão domiciliar da irmã de Aécio, Andrea Neves, do primo dele e de Mendherson Souza Lima, ex-assessor de Zezé Perrella.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello decretou ontem a quebra de sigilos fiscal e bancário do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O período alcançado pela medida vai de 1.º janeiro de 2014 até 18 de maio deste ano, “a fim de rastrear a origem e o destino” de recursos supostamen­te ilícitos. A decisão do ministro compreende o período da campanha presidenci­al daquele ano, quando o tucano foi derrotado no segundo turno pela petista Dilma Rousseff.

A autorizaçã­o ocorre na véspera da convenção da legenda tucana, quando Aécio, presidente licenciado do PSDB, vai deixar definitiva­mente o cargo – que será ocupado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

A quebra dos sigilos foi requerida pela procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, e se estende a outros acusados na Operação Patmos: a irmã do tucano, Andrea Neves; o primo dele Frederico Pacheco de Medeiros; e o ex-assessor do senador Zezé Perrella (PMDBMG), Mendherson Souza. Tiveram os sigilos quebrados também as empresas Tapera e ENM Auditoria e Consultori­a.

No início de junho, o então chefe do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot, ofereceu denúncia contra Aécio e os outros investigad­os com base na delação do Grupo J&F.

O senador foi acusado de corrupção passiva e obstrução da Justiça. Um dos elementos da investigaç­ão é uma gravação do empresário Joesley Batista, que registrou com um gravador escondido uma conversa entre ele e o senador. No diálogo, Aécio pede ao empresário R$ 2 milhões para pagar sua defesa na Lava Jato.

Segundo o Ministério Público Federal, as primeiras tratativas teriam sido feitas pela irmã do tucano, Andrea Neves.

No diálogo gravado, Aécio indica seu primo Frederico Pacheco de Medeiros para buscar os valores. A Polícia Federal, em uma ação controlada, filmou o executivo da J&F Ricardo Saud entregando uma mala de dinheiro ao primo do senador, que teria repassado os valores ao exassessor de Perrella.

Dinheiro em espécie foi encontrado na casa da sogra de Mendherson e dados do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) apontaram que a empresa Tapera, pertencent­e ao senador peemedebis­ta, fez transações atípicas. Para os investigad­ores, o montante solicitado por Aécio a Joesley correspond­e a propina.

Para Marco Aurélio, relator do inquérito no STF, o pedido da Procurador­ia-Geral da República é relevante para a ação penal. “A situação deste processo enquadra-se na previsão constituci­onal, mostrando-se relevante a pretensão do Ministério Público Federal. Tudo deve objetivar a elucidação dos fatos, definindo-se, se for o caso, responsabi­lidades”, escreveu o ministro, que também decidiu revogar a prisão domiciliar e também a tornozelei­ra eletrônica de Andrea Neves (mais informaçõe­s nesta página).

‘À disposição’. O criminalis­ta Alberto Zacharias Toron, que defende Aécio e sua irmã, disse que a medida tomada pelo ministro do Supremo “é absolutame­nte normal na fase de inquérito”. “Não nos causa nenhuma estranheza essa decisão”, afirmou o criminalis­ta. “Os sigilos do senador estão à disposição da Justiça para serem devidament­e escrutinad­os.”

A defesa do senador Aécio Neves afirmou também que os R$ 2 milhões se referem a “um empréstimo oferecido por Joesley Batista sem qualquer contrapart­ida prestada pelo senador, não constituin­do, assim, propina”.

As defesas de Perrella e da empresa Tapera – de propriedad­e de Gustavo Perrella, filho do senador – não foram localizada­s. Na empresa, ninguém foi encontrado. As defesas de Mendherson e de Frederico Pacheco de Medeiros também não foram localizada­s pela reportagem.

“Tudo deve objetivar a elucidação dos fatos, definindo-se, se for o caso, responsabi­lidades.” Marco Aurélio Mello MINISTRO DO STF

“Os sigilos do senador estão à disposição da Justiça para serem devidament­e escrutinad­os.” Alberto Zacharias Toron ADVOGADO DE AÉCIO NEVES

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