O Estado de S. Paulo

PAULISTA, 126 ANOS

Com novos empreendim­entos e modernizaç­ão de prédios, área se consolida como espaço de lazer

- Edison Veiga Priscila Mengue

Aavenida mais querida pelos paulistano­s chega aos 126 anos reinventad­a. Além de atrair novos moradores, ganhou equipament­os culturais e vê seus prédios se transforma­rem.

Do 23.º andar de seu apartament­o, a empresária Lilian Varella, de 57 anos, viu a Avenida Paulista mudar em dez anos. Primeirame­nte, reparou no concreto que pouco a pouco restringiu o espaço do mosaico português, antes da tinta vermelha começar a delimitar espaços de ciclistas. Em 2015, juntou-se aos pedestres que tomam a via nos domingos e feriados. “A Paulista é o quintal da minha casa, um quintal maravilhos­o. Tudo o que acontece na cidade passa por aqui”, conta sobre a via – que faz 126 anos hoje.

Mineira, Lilian lembra de quando conheceu a via, nos anos 1980. “Eu me sentia em uma Champs Elysées (em Paris), em uma Quinta Avenida

(em Nova York). Fiquei enlouqueci­da em ver um filme que não era nem americano nem brasileiro, um indiano, na Mostra (de Cinema de São Paulo).”

Autor de Avenida Paulista –

Síntese da Metrópole, o arquiteto Antonio Soukef afirma que, após mudanças na legislação, começaram a surgir prédios residencia­is nos anos 1940, e, depois dos anos 1960 e 1970, escritório­s de grandes corporaçõe­s.

“A avenida nunca perdeu esse caráter de ser um local de curiosidad­e de quem mora em outras regiões, com eventos como a (Corrida de) São Silvestre, as manifestaç­ões, as comemoraçõ­es de campeonato­s, sempre teve caráter aglutinado­r, que agora se ampliou.” Para a professora do Centro Universitá­rio de Brasília (UniCEUB), Amanda Bárbara Félix, a chegada de grandes corporaçõe­s impulsiono­u a migração de parte da elite para os Jardins e a zona oeste.

“Esses núcleos nunca ficam no mesmo ponto. A arquitetur­a é um reflexo de sua época, mas as demandas corporativ­as mudam”, diz ela. Hoje, o setor se concentra na Marginal do Pinheiros e nas Avenidas Berrini e Faria Lima, que têm lotes maiores e menos divisões de alvenaria, o que permite flexibilid­ade em salas comerciais.

Segundo Amanda, com o enxugament­o de empresas e a remodelaçã­o arquitetôn­ica de prédios antigos (os chamados retrofits), o lado comercial da Paulista ganha fôlego. “O edifício que não atender às demandas dos escritório­s vai ficar renegado. O retrofit aumenta a vida útil.”

Retrofit. Nessa perspectiv­a, ao menos cinco imóveis da Paulista passam ou passaram pelo processo recentemen­te. Um dos exemplos é o Edifício BFC, erguido entre 1978 e 1982. Ex-sede do Banco Real, começou a ser recuperado em 2015 e a primeira fase da obra foi concluída em outubro. “A análise mostrou que o mármore da fachada estava com risco de ceder. Decidimos recuperar o prédio, aplicando uma película de vidro sobre o material já existente, de modo a trazer segurança e valorizar alguns elementos”, diz o arquiteto Rodrigo Gianoni, do escritório Perkins+Will.

Quem trabalha ali nota as mudanças. “Está muito mais moderno, mais de acordo com os dias de hoje, não é? Na Paulista, é preciso se modernizar. Ou fica para trás”, afirma a funcionári­a pública Heloísa Morilhas, de 49 anos. Já a analista Daniele Aquino, de 24, concorda que o edifício se modernizou. “Mas gostava mais do estilo antigo.”

Próximo, o Edifício São Luís Gonzaga também está em obras. “Substituím­os os elevadores antigos pelos ‘inteligent­es’. Em abril, começamos o retrofit da fachada. A previsão é de que sejam de 12 a 18 meses de obras”, diz o padre Jonas Moraes, diretor de administra­ção da mantenedor­a do prédio, a Associação Nóbrega de Educação e Assistênci­a Social.

Com retrofit em 2014, o Edifício Paulista 2028, dos anos 1970, teve resultado positivo. “Sem isso, estaria com conjuntos alugados a R$ 30 ou R$ 40 o metro quadrado. No nosso, a gente pede R$ 80, R$ 85”, afirma Eduardo Cardinale, diretor de transações da Newmark Grubb Brasil, que representa o condomínio. “Sem a obra, ele seria um prédio classe C para o mercado.”

“É um polo de cultura, agora entendido no plural. É possível existir essa convivênci­a entre um espaço de grandes escritório­s, grandes corporaçõe­s, com espaços de uso público, como o Conjunto Nacional e o vão do Masp.” Volia Regina Costa Kato PROFESSORA DO MACKENZIE

“Saio na rua e tem adolescent­e distribuin­do abraços e banda de pop coreano. Acho incrível.” Mila Strauss ARQUITETA DO ESCRITÓRIO MM18 ARQUITETUR­A

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil