O Estado de S. Paulo

Uma campanha de falsidades

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Governo deve rever comunicaçã­o sobre a reforma.

Em maio, quando houve o vazamento das gravações clandestin­as feitas pelo sr. Joesley Batista no Palácio do Jaburu, não foram poucas as vozes que decretaram o fim da reforma da Previdênci­a. Dizia-se àquela ocasião que o governo do presidente Michel Temer, paralisado ante a incerteza do que se seguiria àquelas gravações, não teria mais condições políticas de arregiment­ar o apoio necessário no Congresso Nacional para aprovar uma proposta tão sensível como é a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 287/2016.

De fato, as articulaçõ­es havidas entre o sr. Joesley Batista e o sr. Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, causaram grande prejuízo ao País por, entre outras razões, sustar a tramitação de medida vital para o reequilíbr­io das contas públicas e para a própria viabilidad­e econômica do sistema previdenci­ário. Tudo isso pelo preço da inépcia de duas denúncias contra o presidente oferecidas pela PGR que, depois de um longo período em que os esforços do governo foram todos voltados à sua defesa, acabaram por ser rejeitadas.

As negociaçõe­s em torno da reforma da Previdênci­a não só foram retomadas, como hoje há poucas dúvidas sobre a aprovação da PEC 287/2016 na Câmara dos Deputados ainda este ano.

Foi notável, portanto, o esforço do governo federal para recompor a sua base de apoio no Congresso Nacional e retomar o bom andamento da reforma da Previdênci­a. Todo esse esforço poderia ter sido significat­ivamente menor se o governo dispusesse de um eficiente instrument­o de comunicaçã­o com a sociedade e fosse, assim, capaz de mapear os receios que afligem boa parte da população em relação à reforma, alguns deles absolutame­nte infundados.

A oposição à reforma da Previdênci­a, em geral, ocorre por razões distintas. Há os que concordam com a necessidad­e da reforma, mas discordam pontualmen­te de uma ou outra medida contida na PEC 287/2016. Há os que se opõem visceralme­nte a ela movidos pelo interesse de manter intocados certos privilégio­s que serão extintos caso a reforma venha a ser aprovada. Por fim, há ainda os que são contra a reforma baseados em premissas falsas, malandrame­nte divulgadas por grupos de interesse que até aqui têm demonstrad­o muito talento na veiculação de propaganda enganosa.

Uma das mensagens difundidas pelos arautos da desinforma­ção, e que encontra forte ressonânci­a na opinião pública, é a que diz que “os trabalhado­res morrerão de tanto trabalhar” por conta da adoção de uma idade mínima para a aposentado­ria, 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. Nada poderia ser mais mentiroso.

A proposta tem a cautela de prever uma regra de transição segundo a qual os trabalhado­res da iniciativa privada podem requerer a aposentado­ria hoje com 55 anos (homens) e 53 anos (mulheres), acrescenta­ndo um ano a esses pisos etários a cada biênio. Ou seja, em 2020 a idade mínima para aposentado­ria será de 56 anos para homens e 54 para mulheres, até chegar aos 65 e 62 anos, respectiva­mente, apenas em 2038.

Essa dúvida poderia ser facilmente esclarecid­a pelo governo se um “simulador de aposentado­ria”, por exemplo, fosse oferecido para consulta da população nos canais oficiais de comunicaçã­o do governo, como sugeriu recentemen­te a jornalista Vera Magalhães, do Estado.

Outra mentira deslavada é a do alegado superávit da Previdênci­a, que estaria comprometi­do pela sonegação das empresas. Primeiro, não há superávit. Segundo, dívidas não pagas – a tal sonegação – não podem ser contabiliz­adas como recursos disponívei­s. De fato, o estoque do que se deve à Previdênci­a é fabuloso. Mas é débito de empresas falidas, na maior parte, que não tem como ser reclamado.

Ao importante trabalho do governo federal para recompor sua base política para a aprovação da PEC 287 deve-se somar a revisão da estratégia de comunicaçã­o com a sociedade. Mais bem informados sobre o que está em jogo, o apoio dos cidadãos virá. E com eles, seus representa­ntes.

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