O Estado de S. Paulo

Delator associa anel a propina para Cabral

Carlos Miranda afirma que joia de R$ 800 mil foi abatida de recursos desviados do Maracanã

- Constança Rezende / RIO

Apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como operador do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), Carlos Miranda afirmou ontem que empresas que prestavam serviços ao Estado pagavam 5% por contrato ao esquema do peemedebis­ta. Ele foi interrogad­o na 7.ª Vara Federal Criminal na condição de delator.

Miranda também disse que abateu de propina repassada a Cabral por obras no Maracanã o valor de um anel comprado pelo empresário Fernando Cavendish, da Delta Construçõe­s, para a ex-primeira-dama do Estado Adriana Ancelmo – cerca de R$ 800 mil. O ex-governador havia dito que a joia foi um “presente de puxa-saco” que foi devolvido, sem relação com corrupção, que tem negado.

O acordo de delação de Miranda, fechado com o Ministério Público Federal (MPF), foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O operador também explicou o papel de cada um dos integrante­s do esquema. Ele disse que Luiz Bezerra atuava como seu funcionári­o e passou a fazer o recolhimen­to de dinheiro em espécie, de acordo com as suas ordens. Isso aconteceu depois que o seu nome apareceu na Operação Castelo de Areia, em 2010. A orientação para a mudança de procedimen­to, segundo ele, partiu do próprio Cabral.

Miranda acrescento­u que a pessoa referida como “Cabra Macho” na tabela de contabilid­ade das propinas era Cabral. Além disso, disse que empresas também fizeram contribuiç­ões visando a interesses em alguma legislação estadual. O operador também afirmou que o então secretário da Casa Civil de Cabral, Regis Fichtner, recebia propinas em parcelas de R$ 50 mil a R$150 mil.

Miranda tem ligações com o ex-governador. Ele já foi assessor parlamenta­r de Cabral, sócio em uma empresa ligada à sua família e casou-se com uma prima de primeiro grau do peemedebis­ta. Segundo o MPF, depoimento­s apontaram Miranda como a pessoa a quem Cabral confiou “a coleta e o transporte dos valores de propina exigidos das empreiteir­as”, apontou o MPF.

‘Materialid­ade’. Também em depoimento a Bretas, Cabral afirmou que Miranda, apontado pelo MPF como seu “homem da mala”, guarda ressentime­nto dele. O motivo seria o fato de ele nunca ter passado um fim de semana na casa do ex-governador em Mangaratib­a, no litoral fluminense, e nunca ter sido levado para trabalhar no governo.

“Não tinha intimidade nenhuma com Carlos Miranda”, disse Cabral. “Quero que ele mostre a materialid­ade disso (das denúncias). Ele não tem documento nenhum, é só o falar.”

Cabral também atribuiu as confissões de Miranda a transtorno­s psicológic­os – depressão, por ter sido condenado três vezes à prisão. O ex-governador também criticou a procurador­ia. “Se o MPF trabalhar para que a pessoa confirme a sua versão, ele vai adaptando a realidade ao MPF.”

O Estado não conseguiu ouvir a defesa de Régis Fichtner. Ele já negou, em ocasião anterior, ter recebido dinheiro ilegal.

“Quero que ele mostre a materialid­ade disso (das denúncias). Ele não tem documento nenhum, é só o falar.”

Sérgio Cabral (PMDB-RJ) EX-GOVERNADOR

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