O Estado de S. Paulo

Governo estuda devolver cargos a deputados infiéis

Estratégia seria forma de buscar, para a reforma da Previdênci­a, os votos de deputados que votaram contra o governo nos últimos meses

- Vera Rosa Daiene Cardoso / BRASÍLIA

Na tentativa de conseguir mais votos para aprovar a reforma da Previdênci­a, o presidente Michel Temer estuda devolver cargos que foram tirados de aliados que votaram contra o governo nos últimos meses. A sugestão foi dada a Temer pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A avaliação é que, com isso, 30 votos poderiam ser ganhos.

Nesse momento, cada voto é mais do que importante, já que o Palácio do Planalto identifico­u mais um problema para a aprovação da reforma da Previdênci­a. Pelos cálculos apresentad­os por Maia, 180 deputados são contrários às mudanças na aposentado­ria e não estão dispostos a mudar de posição – número muito próximo aos 205 contrários que já inviabiliz­ariam a aprovação. Temer quer que a proposta vá a plenário na semana do próximo dia 18, a última antes do recesso parlamenta­r, sob a alegação de que, se isso não ocorrer, nada será apreciado pela Câmara em 2018.

“Ou votamos agora ou não votamos mais”, disse Temer no jantar realizado na quarta-feira, no Palácio da Alvorada, segundo relatos de participan­tes. Até agora, segundo apurou o Estado,o governo contabiliz­a de 260 a 278 votos favoráveis à reforma, mas precisa de 308. O clima no Planalto é de pessimismo.

Em relação aos cargos, Temer ainda não bateu o martelo sobre quais seriam devolvidos, mas indicou que pode rever as punições de infiéis que se compromete­rem a apoiar a reforma. Além disso, o governo negocia mais R$ 3 bilhões para as emendas de bancada em 2018, o que elevaria automatica­mente os recursos do Fundo Eleitoral. O presidente também pediu à equipe econômica que faça cálculos sobre tudo o que pode ser remanejado no Orçamento para atender às demandas dos parlamenta­res.

As maiores resistênci­as às alterações na Previdênci­a estão nas bancadas do PSDB – que controla três ministério­s – e do PSD, hoje com a pasta de Ciência, Tecnologia e Comunicaçõ­es. Em conversas reservadas, auxiliares de Temer dizem que o ministro Gilberto Kassab tem feito pouco esforço para convencer os deputados do PSD.

O presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, admitiu nova divisão da bancada, mas observou que o ambiente pode melhorar com a eleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para o comando do partido, na convenção marcada para amanhã. Pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Alckmin já disse ser favorável à reforma da Previdênci­a.

Até agora, apenas o PMDB e o PTB decidiram obrigar seus deputados a apoiar a reforma. Mas não explicitar­am qual será a punição para os desobedien­tes.

Recusas. Sem esconder a contraried­ade com a falta de apoio, Temer afirmou, no jantar do Alvorada, que a base aliada terá de deixar claro à população, se não votar a proposta, quais os motivos para se recusar a apreciar o texto, após tantas modificaçõ­es acatadas pelo governo.

“É preciso que se diga: ‘Não vamos votar porque queremos manter os privilégio­s e que outros paguem a conta’”, disse, segundo relatos de deputados presentes ao encontro.

Após conversar ontem com Temer, no Planalto, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), afirmou que os aliados precisam de mais tempo. “Eu não poria para votar uma matéria dessa natureza, que tem repercussã­o tão grande para o País, com a certeza de derrota”, insistiu. “Agora, vamos reforçar para a sociedade que a previdênci­a pública tem hoje tratamento diferencia­do daquele que é dado ao sistema privado, do cidadão comum.”

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