Mercado vê chances menores de aprovação
Investidores avaliam que está mais difícil levar a reforma da Previdência para votação ainda este ano; ontem, a Bolsa caiu 1,07% e dólar subiu 1,7%
As dificuldades do governo em aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano desanimaram o mercado financeiro ontem, levando o Ibovespa (principal índice da Bolsa brasileira) a recuar 1,07%, para 72.487 pontos. A queda chegou a 2,6% durante a manhã, mas notícias externas, sobretudo as altas dos preços do petróleo e das bolsas de Nova York, amenizaram as perdas. Segundo analistas, tanto a Bolsa como o câmbio (o dólar subiu 1,7%, a R$ 3,288) continuarão voláteis enquanto não houver uma definição sobre a reforma.
O pessimismo de ontem veio sobretudo da percepção de que a possibilidade de a reforma ser aprovada ainda neste ano diminuiu e que o governo foi obrigado a adiar a votação para a penúltima semana de dezembro. “A cada dia que passa, as chances (de aprovação antes do recesso) são menores”, disse o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido.
Hoje, a XP trabalha com uma probabilidade de 20% a 30% de a reforma passar antes do recesso de fim de ano. Caso o texto seja aprovado até lá, a Bolsa poderá subir a 78 mil pontos, de acordo com projeções da corretora. Caso contrário, deverá cair para 70 mil.
Para a Tendências Consultoria, entretanto, é de 70% a probabilidade de consolidação de um cenário que contemple a reforma ainda neste ano. “Estamos trabalhando com esse panorama, mas vemos que a aprovação (da reforma) ficou mais difícil”, afirmou Silvio Campos, economista da consultoria. Campos também destacou que, conforme os dias passam, vai ficando “mais apertado” para o governo. O economista acrescentou que a Bolsa e o câmbio deverão permanecer instáveis até o fim da próxima semana. “Pelo menos enquanto não houver uma percepção final (em relação à reforma).”
Inversão. A semana havia começado com a Bolsa em alta e o dólar em queda após o encontro, no último domingo, em que o presidente Michel Temer propôs um pacto com parlamentares para aprovar a proposta. Para Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos, porém, o otimismo havia sido exagerado. “A alta de 1% da Bolsa ontem (quarta-feira) foi um pouco prematura, baseada em boa parte no fechamento de questão do PMDB em favor da reforma. Além das dissidências dentro do PMDB, que não garantem votação integral da legenda, ainda há diversos partidos da base que estão indecisos e que não vão fechar questão”, disse.
Em encontro com jornalistas, o presidente da B3 (a Bolsa de São Paulo), Gilson Finkelsztain, afirmou, porém, que ainda há chances de que a reforma passe e acrescentou que sua aprovação não está totalmente precificada no mercado. “O consenso é que não está precificado, deve estar cerca de 50%”, destacou o executivo.
Empresas. Ontem, as quedas na Bolsa atingiram praticamente todas empresas com maior credibilidade no mercado, com destaque para o setor financeiro, o mais importante na composição do Ibovespa.
As ações ordinárias (com direito a voto) do Banco do Brasil, bastante sensíveis ao risco político, terminaram o dia em queda de 3,87%, um dos piores desempenhos do mercado. Os papéis da Petrobrás recuaram 0,88% (ações ordinárias) e 1,68% (preferenciais, sem direito a voto), apesar das altas do petróleo no mercado internacional. A Embraer foi um dos destaques positivos do dia, com alta de 1,51%. O Ibovespa acumula alta de 0,72% em dezembro de 20,36% em 2017.
“A cada dia que passa, que o recesso se aproxima, as chances de aprovação da reforma são menores.” Celson Plácido ESTRATEGISTA-CHEFE DA XP
“Trabalhamos com o cenário de aprovação, mas está ficando mais difícil.” Silvio Campos ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS