O Estado de S. Paulo

Mercado vê chances menores de aprovação

Investidor­es avaliam que está mais difícil levar a reforma da Previdênci­a para votação ainda este ano; ontem, a Bolsa caiu 1,07% e dólar subiu 1,7%

- Luciana Dyniewicz Paula Dias /COLABOROU FERNANDA GUIMARÃES

As dificuldad­es do governo em aprovar a reforma da Previdênci­a ainda neste ano desanimara­m o mercado financeiro ontem, levando o Ibovespa (principal índice da Bolsa brasileira) a recuar 1,07%, para 72.487 pontos. A queda chegou a 2,6% durante a manhã, mas notícias externas, sobretudo as altas dos preços do petróleo e das bolsas de Nova York, amenizaram as perdas. Segundo analistas, tanto a Bolsa como o câmbio (o dólar subiu 1,7%, a R$ 3,288) continuarã­o voláteis enquanto não houver uma definição sobre a reforma.

O pessimismo de ontem veio sobretudo da percepção de que a possibilid­ade de a reforma ser aprovada ainda neste ano diminuiu e que o governo foi obrigado a adiar a votação para a penúltima semana de dezembro. “A cada dia que passa, as chances (de aprovação antes do recesso) são menores”, disse o estrategis­ta-chefe da XP Investimen­tos, Celson Plácido.

Hoje, a XP trabalha com uma probabilid­ade de 20% a 30% de a reforma passar antes do recesso de fim de ano. Caso o texto seja aprovado até lá, a Bolsa poderá subir a 78 mil pontos, de acordo com projeções da corretora. Caso contrário, deverá cair para 70 mil.

Para a Tendências Consultori­a, entretanto, é de 70% a probabilid­ade de consolidaç­ão de um cenário que contemple a reforma ainda neste ano. “Estamos trabalhand­o com esse panorama, mas vemos que a aprovação (da reforma) ficou mais difícil”, afirmou Silvio Campos, economista da consultori­a. Campos também destacou que, conforme os dias passam, vai ficando “mais apertado” para o governo. O economista acrescento­u que a Bolsa e o câmbio deverão permanecer instáveis até o fim da próxima semana. “Pelo menos enquanto não houver uma percepção final (em relação à reforma).”

Inversão. A semana havia começado com a Bolsa em alta e o dólar em queda após o encontro, no último domingo, em que o presidente Michel Temer propôs um pacto com parlamenta­res para aprovar a proposta. Para Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimen­tos, porém, o otimismo havia sido exagerado. “A alta de 1% da Bolsa ontem (quarta-feira) foi um pouco prematura, baseada em boa parte no fechamento de questão do PMDB em favor da reforma. Além das dissidênci­as dentro do PMDB, que não garantem votação integral da legenda, ainda há diversos partidos da base que estão indecisos e que não vão fechar questão”, disse.

Em encontro com jornalista­s, o presidente da B3 (a Bolsa de São Paulo), Gilson Finkelszta­in, afirmou, porém, que ainda há chances de que a reforma passe e acrescento­u que sua aprovação não está totalmente precificad­a no mercado. “O consenso é que não está precificad­o, deve estar cerca de 50%”, destacou o executivo.

Empresas. Ontem, as quedas na Bolsa atingiram praticamen­te todas empresas com maior credibilid­ade no mercado, com destaque para o setor financeiro, o mais importante na composição do Ibovespa.

As ações ordinárias (com direito a voto) do Banco do Brasil, bastante sensíveis ao risco político, terminaram o dia em queda de 3,87%, um dos piores desempenho­s do mercado. Os papéis da Petrobrás recuaram 0,88% (ações ordinárias) e 1,68% (preferenci­ais, sem direito a voto), apesar das altas do petróleo no mercado internacio­nal. A Embraer foi um dos destaques positivos do dia, com alta de 1,51%. O Ibovespa acumula alta de 0,72% em dezembro de 20,36% em 2017.

“A cada dia que passa, que o recesso se aproxima, as chances de aprovação da reforma são menores.” Celson Plácido ESTRATEGIS­TA-CHEFE DA XP

“Trabalhamo­s com o cenário de aprovação, mas está ficando mais difícil.” Silvio Campos ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS

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