O Estado de S. Paulo

Venda da Eletrobrás beneficiar­á mais a União

Pelo acordo fechado no governo, Tesouro pode ficar com até dois terços dos recursos

- Anne Warth Adriana Fernandes

A União terá prioridade no recebiment­o dos recursos da privatizaç­ão da Eletrobrás. No projeto de lei que vai tratar do assunto, o governo federal poderá ficar com até dois terços do dinheiro. O consumidor de energia elétrica será beneficiad­o com um terço dos recursos, por meio de abatimento­s futuros na conta de luz.

O acerto foi fechado em reunião com integrante­s dos Ministério­s da Fazenda, Planejamen­to, Casa Civil e Minas e Energia. O projeto de lei deve ser enviado ao Congresso até a próxima semana. A ideia inicial do Ministério de Minas e Energia era dividir os recursos igualmente entre Tesouro, consumidor e Eletrobrás. A preocupaçã­o era buscar uma forma de incentivar a Eletrobrás a aderir à privatizaç­ão, já que a União não pode impor a proposta à empresa.

Mas o Ministério da Fazenda não abriu mão de receber uma parcela maior desse dinheiro, sob a justificat­iva de que a Eletrobrás, embora controlada pela União, também conta com acionistas privados. Por isso, para a área econômica, dividir os recursos de forma igualitári­a seria uma forma de benefício indevido a esses acionistas.

O acordo prevê que a União fique com, no mínimo, um terço do dinheiro, e, no máximo, dois terços. Para que o Tesouro possa receber mais, a Eletrobrás receberá menos. A empresa ficará com, no máximo, um terço dos recursos dessa divisão.

Antes de ser privatizad­a, a Eletrobrás terá de passar por ajustes prévios que terão impacto nas contas da companhia. Dentro do governo, há dúvidas sobre o que deve ser arcado apenas pela empresa e o que pode ser assumido ou receber alguma contribuiç­ão da União.

O tratamento desses ajustes é o foco de divergênci­a entre as áreas, pois esses itens podem gerar abatimento­s no bônus de outorga que a Eletrobrás pagará à União para ter direito a novos contratos de concessão, o que reduziria a arrecadaçã­o do Tesouro.

Como não houve acordo sobre esse tema, o governo decidiu deixar essa decisão para depois. Ficou definido que esse cálculo será feito de acordo com critérios técnicos, nos estudos que serão contratado­s para subsidiar a privatizaç­ão.

Imbróglios. As divergênci­as dentro do governo dizem respeito a imbróglios do passado, como o valor necessário para viabilizar a usina nuclear de Angra 3 e os empréstimo­s compulsóri­os, que geraram uma disputa bilionária na Justiça. Em todos os casos, a Eletrobrás acredita ter créditos a receber da União, mas o Tesouro avalia que não deve assumir essas contas.

Um dos impasses, porém, foi finalmente superado. O Ministério da Fazenda concordou em pagar uma dívida de R$ 3,5 bilhões para cobrir gastos com combustíve­l para termoelétr­icas de distribuid­oras dos sistemas isolados.

Esse pagamento foi definido pela Lei 13.360/2016, mas, até agora, não havia sido realizado. Os recursos serão pagos majoritari­amente à Amazonas Energia, distribuid­ora do grupo Eletrobras. Para isso, porém, a dívida da distribuid­ora terá que “subir” e ser assumida pela holding Eletrobrás.

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EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 10/2/2010 Foco. Projeto de venda das ações deve ser enviado ao Congresso até a próxima semana

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